A condessa bastarda -- Capítulo 16


                Maria Clara seguiu para o banco.
                Mais uma vez teve que inventar uma desculpa ao amigo do seu avô. Porém o que importava naquele momento era que conseguira o empréstimo que o Frederico necessitava.
             Seguiu até o carro e ficou parada por alguns minutos ali, observando a correria costumeira dos grandes centros. Precisava retornar, mas não era isso que o seu coração gritava para fazer. Desejava se jogar nos braços da condessa e fingir que só havia elas naquele mundo tão grande.
             Quando saiu do banho naquela manhã, Vitória tinha ido embora. Ainda tivera a ilusão de encontrá-la ali, esperando, dizendo que a queria para si e que não permitiria que ela partisse, porém mais uma vez sonhara com algo que jamais aconteceria.
               Não se arrependia de ter se entregado, como falara, não haveria outra pessoa que desejasse que lhe tomasse. Não conseguira controlar aquele sentimento que parecia querer explodir em seu peito.
                O celular tocava insistentemente lhe tirando de seus pensamentos.
         Ainda pensou em não atender, mas preferiu não arrumar ainda mais problemas com o namorado.
            Marcos parecia irritado, exigindo que ela voltasse o mais rápido possível para casa, não parecera nada feliz com o fato de ela ter viajado. Na noite passada ao conversarem, ele já mostrava essa chateação, porém agora parecia bem pior.
                 Respirou fundo e tentou não ser grossa.
                 -- Dentro de algumas horas estarei em casa. – Disse simplesmente finalizando a chamada.


               A condessa retornou para o próprio quarto. Sua mente fervilhava, vários pensamentos lhe deixava cada vez mais perturbada.
                Deitou-se de costas e ficou olhando para o teto por intermináveis segundos. Sentiu os dedos tocarem a maciez da rosa branca. Fitou-a e em seguida aspirou o delicado aromara primaveril.
               -- Porque dentro de mim só há inverno, doce Branca de Neve... Fechou os olhos e sua mente retornou há muitos anos.
              O primeiro Natal que passara fora do internato. Chegara à fazenda e imediatamente aprendera qual era o seu lugar. Victor estava viajando e só chegaria no dia vinte e cinco.
Vestiu-se e seguiu para o grande salão onde as pessoas se reuniam. Mesmo com a situação financeira decadente, os Mattarazis ostentavam algo que não mais tinham.
                 Conseguia se recordar bem do olhar desdenhoso que a madrasta lhe dirigia, não disfarçando o total desagrado pela presença da garota.
                    Victorio àquela altura da festa já flertava abertamente com todas as mulheres presentes ali, não se importava se fosse um relés empregada ou a filha ou até esposa de um dos convidados.
                    Vitória recordava que passara toda a ceia de Natal na enorme varanda que circundava a casa grande, apenas observava a todos e não havia ninguém que se importasse com ela.
                    Quando amanheceu o dia e todos os convidados já tinham ido embora. A ruiva retornou para o salão, então encontrou Kassandra, a esposa do pai.
                   -- Limpe tudo! – A odiosa mulher ordenou. – E nunca mais apareça aqui quando tivermos convidados. A jovem a encarou.
                  -- Não sou sua empregada! – A garota respondeu altiva. A risada da condessa ecoou por toda a sala.
                 -- Você é uma bastarda. – Frisou bem o adjetivo. – A filha de uma empregadinha, uma prostituta que achou que poderia ter algo com o patrão, mas sabe, você e sua mãe não passam de um lixo, jamais poderá ser vista como algo além de uma maldita bastarda... Uma mancha nos bons costumes, uma erva podre que veio ao mundo para desgraçar a vida de todos.
                   Vitória se virou para sair e viu o conde encostado no topo da escada, em seu semblante havia consentimento para a atitude da esposa. Depois daquele dia, a jovem percebera que precisaria ser forte se desejasse sobreviver a toda aquelas humilhações. Com o tempo, passara a se tornar tão insensíveis que chegou a imaginar que não havia um coração dentro de si.
                     Uma lágrima solitária lhe molhou a face...


                Miguel passara o dia percorrendo toda a extensão de terra da fazenda Mattarazi, pedira ajuda a polı́cia, mas não encontrara uma única pista do animal. Logo cedo, retornou para as terras de Vitória e estava quase desistindo do intuito quando ouviu o relinchar bem caracterı́stico. Avisou aos empregados que estavam consigo e seguiram até onde vinha o som.
                  Andaram por alguns metros e lá estava o poderoso animal. Sentiu um alívio em seu peito, temera tanto que algo terrível tivesse ocorrido com o garanhão. Sabia que alguém fizesse algo com o Bastardo, nada impediria a condessa de usar de violência para castigar os culpados.
                   O animal parecia ainda mais arisco e não permitiu que ninguém se aproximasse.
                   -- Esse bicho está possuı́do, doutor. – Um dos peões falava assustado.
                 Miguel não acreditava nessas crendices, mas sabia que algo não estava bem, pois Bastardo não permitia que ninguém chegasse perto.
                   -- Vão buscar o veterinário. – Ordenou.
                -- Ele não está na cidade, ontem estive lá e fiquei sabendo que ele tinha viajado e ficaria uma semana fora. – Batista se adiantou.
                   O advogado retirou o chapéu e limpou o suor que cobria a tez.
                   -- Temos que levar esse bicho para a fazenda.
               -- Como? – O administrador o fitou. – Só a condessa poderá se aproximar dele. Miguel respirou fundo.
                  Não sabia onde estava a patroa, ligava para o celular e não recebia respostas, então decidiu mandar uma mensagem para ela falando sobre o problema com o cavalo. Gostaria de ter resolvido aquele empecilho sozinho, mas percebeu que não teria como fazê-lo.


                   Clara retornara para a casa no dia anterior.
                Frederico ficou feliz por ter conseguido o empréstimo, não era muito, mas por enquanto, serviria para saldar algumas dívidas.
                  A jovem nem pode descansar e já retornava para sua rotina. Faltavam poucos dias para as eleições e não poderia relaxar na altura do campeonato.
                   Depois do almoço, seguiu para a casa do noivo, encontrou-o na sala, esperando-a.
                  -- Essa é a última vez que você viaja e não me explica o motivo disso. – Foi falando assim que a viu. 
                    A garota o encarou por alguns segundos.
                    Estava exausta e a última coisa que desejava era entrar em uma discussão com o rapaz.
                -- Também tenho minhas próprias coisas para resolver. – Disse calmamente. 
                  Marcos não pareceu feliz com a explicação e seguiu até ela com passos firmes.
              -- Suas coisas ou do seu avô? – Indagou. – Tenho certeza que Frederico te fez viajar em busca de dinheiro. Ele não tem mais a quem recorrer e está usando você como fez com... – Parou bruscamente.
                 -- Fez com quem? – Perguntou arqueando a sobrancelha. – De quem estás a falar? 
                  O jovem passou a mão pelos cabelos.
               -- Apenas não desejo que nossa campanha que está quase ganha seja prejudicada. – Estendeu a mão lhe tocando a face.
                   – Em poucos dias, você será eleita prefeita dessa cidade e precisamos tomar cuidado com nossas ações, pois a condessa não aceitará nossa vitória de bom grado.
                    Maria Clara sentiu um arrepio na nuca ao ouvir à menção à Mattarazi.
              Ainda sentia os efeitos dos momentos de amor em seu corpo. Ainda doía não ter permanecido com ela, seu peito ainda sangrava por não ter encontrado-a quando saiu do banho.
                Mirou o homem parado a sua frente e sentiu a culpa ficar ainda maior. Estava a trair o futuro marido, não só em suas ações, mas em seus pensamentos que vivia constantemente a buscar por lindos olhos verdes.
                     Até quando conseguiria sustentar àquela situação?
                    -- Perdoe-me por ter falado assim, não quero que briguemos, meu amor.
                    A jovem sentiu o toque nos lábios e permaneceu estática, fria ao beijo.
                    -- Acho melhor irmos. – Interrompeu o contato.
                    -- Certo, irei buscar minhas coisas.
                    Clara assentiu e permaneceu esperando.
                    O dia dos polı́ticos fora bem atribulados e só retornaram para a casa quando já passava da meia noite.


                  A condessa não deixara o hotel. Com a partida da Duomont, ela não sentira vontade de sair, nem mesmo quando recebera o convite tão sugestivo da loira.
                    Tinha acabado de tomar banho quando ouviu o bip do celular. Viu a mensagem de Miguel e na mesma hora ligou para saber o que estava ocorrendo. Ficou louca ao saber do que aconteceu com o cavalo. Praguejou alto, em seguida encerrou a chamada e discou para o piloto, não retornaria de carro, iria no helicóptero, pois assim não perderia tempo.
                     Era quase meio dia, quando viram o carro da condessa se aproximar. Ela parecia furiosa.
                -- O que houve com o Bastardo? – Bateu com o chicote na própria bota. – Eu saio por alguns dias e um monte de incompetentes não conseguem nem ao menos cuidar do meu cavalo. – Gritava. – Demitirei todos, estou cansada de vocês.
                  Miguel preferiu ficar quieto. Batista baixou a cabeça, enquanto os peões pareciam ainda mais assustados.
                    Vitória caminhou a passos firmes até onde estava o garanhão, mas ao se aproximar foi atacada e acabou indo ao chão. 
                       O advogado correu até ela.
                      -- Você está bem? – Ajudou-a a levantar.
                     -- Solte-me, seu idiota! – Empurrou-o. – Tudo isso é culpa de vocês. – Apontava o dedo acusadoramente. – Estou cercada de incompetentes, idiotas!
                  Miguel preferiu não discutir. Conhecia bem aquele gênio terrível e sabia que se falasse alguma coisa, ela ficaria ainda mais furiosa. Retornou para junto de Batista e ficaram a observar as inúmeras investidas da condessa para se aproximar do cavalo, todas fracassadas e ela ficava cada vez mais fora de si.
                    Todos temeram quando viram Vitória se aproximando em passos largos.
                    -- Dê-me a droga dessa corda!
                    O empregado rapidamente fez o que fora ordenado.
                    Mattarazi tentou laçar o bicho, mas a tentativa fora mais uma vez em vão.
                  -- Que merda, Bastardo! – Praguejava passando as mãos pelos longos cabelos. – Não me obrigue a usar métodos mais doloridos.
                   O garanhão levantou as patas relinchando, parecia desafiar a dona. 
                  Ela caminhou até os presentes.
          -- Vá buscar o veterinário! – Ordenou com as mãos na cintura. – Diga-lhe para vir urgentemente aqui. 
                  Os presentes se entreolharam, pareciam temerosos, baixaram a cabeça.
                  -- Estão surdos? – Gritou.
                -- Ele não está na cidade. – O administrador falou tomando a frente de todos. 
                 A condessa socou a palma da mão.
                Aquilo não poderia estar acontecendo. Nunca tivera problemas com o cavalo. O criara desde que era apenas um potro quando fora rejeitado por todos, ela o acolheu e o tornou seu.
                 Ele era tudo o que ela tinha e agora estava sendo rejeitada. Agachou sobre os calcanhares e ficou o observando.
                 Percebia o olhar impetuoso do animal, parecia irritado, mas por quê?
              O advogado sentiu um aperto no peito. Era visível a decepção no semblante da condessa. Sabia bem o que ela já  passara na vida, e talvez para muitos, aquilo fosse apenas drama, porém fora o Bastardo quem sempre estivera ao seu lado durante tanto tempo.
               Sabia o que devia fazer e não hesitou, bem, já tinha sido demitido, então esse risco não correria mais. Discou o número e depois de alguns minutos foi atendido.

               Maria Clara ainda estava na cama. Fora dormir tarde e o cansaço lhe dominavam todo o corpo.
                Ouviu o som do celular, visualizou o número e não reconheceu, mas mesmo assim atendeu, poderia ser algo relacionado à campanha.
                  Ficou surpresa com as palavras que foram ditas a seguir.


                  -- Isso é um absurdo!
                  Frederico estava verificando os animais quando se virou ao ouvir a voz do filho.
                  -- Do que você está falando?
                 -- Achas que não sei que mandou a Maria Clara para a capital em busca de empréstimo com o seu amigo banqueiro?
                    -- Isso não é da sua conta! – Falou se afastando. Felipe foi até ele e o segurou.
            -- Não permitirei que envolva a minha filha nas suas sujeiras. – Apontou-lhe o dedo acusadoramente. – O senhor está devendo tudo que temos e ainda está envolvendo a própria neta com agiotas.
                   -- Não se meta nas minhas coisas! – Frederico disse por entre os dentes.
                   -- Não permitirei que faça com a Clara o que fez com a minha irmã!
                    O polı́tico observou o filho se afastar a passos largos e decidiu não ir atrás dele.
              Não haveria nenhum risco de ter problemas, tudo já fora totalmente planejado. A neta ganharia a campanha e ele conseguiria arcar com todas as dívidas. Logo, logo recuperaria o prestı́gio de outrora e se vingaria da condessa Mattarazi.


                    Clara nem mesmo falou com os pais. Após receber a ligação, seguiu direto ao destino que lhe esperava.
                 Não hesitou em momento algum, as palavras do advogado a fizeram pular da cama e seguir direto para o banho, coisa que fizera rapidamente.
                     Ao chegar ao local indicado ficou surpresa ao ver a condessa. O advogado não falara que ela tinha retornado. Pensou em dar ré e voltar para a casa.
                   Ficou por alguns minutos parada a distância. Sua presença não parecia ter sido notada pelos presentes. Observou a ruiva tentar se aproximar do cavalo e viu quando ele levantava as patas dianteiras, enfrentando-a. Rapidamente deixou o veı́culo e caminhou até onde ela estava.
                    -- Você o está deixando mais estressado, Vitória!
                    A ruiva se virou e pareceu não gostar de ver a neta de Frederico ali.
                -- Ora, quem você pensa ser para se meter onde não foi chamada? – Encarou-a com as mãos nos quadris. – Saia imediatamente daqui, eu não a chamei.
                    Clara respirou fundo.
                   Odiava aquele gênio arrogante, chegava a perder toda paciência quando a condessa exibia aquele lado estúpido. Fitou os olhos verdes e notou que pareciam soltar chispas de raiva.
                    -- Eu a chamei! – Miguel interferiu.
                -- E com que permissão você o fez? – Gritou. – Você não tem nenhum direito de tomar decisões. Eu sou a dona, eu quem ordena aqui. – Apontava o indicador.
                    A jovem Duomont relanceou os olhos.
                   -- Você está sendo muito infantil, condessa... – Disse caminhando até o cavalo.
               Vitória tentou detê-la, mas ficou surpresa quando o garanhão aceitou de bom grado o carinho que recebeu na tez. Observava tudo e parecia ficar ainda mais descontrolada. Ouviu os peões os comentarem sobre como Maria Clara obtivera sucesso ao domar o garanhão.
                   -- Saiam daqui, estão todos demitidos, não quero vê-los mais na minha frente.
                  A condessa caminhou até o carro, sentou no capô e ficou observando o desenrolar da cena. Não conseguia conter a raiva e temia que a qualquer momento perdesse a cabeça.
               Batista falou com os trabalhadores e pediu para que eles seguissem para a fazenda, prometeu que depois falaria com eles.
                  -- Já não sei se foi uma boa ideia trazer a senhorita Duomont aqui. – O administrador falou ao notar onde estava a patroa. – Ela parece possuı́da por uma força maligna.
                       Miguel deu de ombros.
                 -- Era necessário um veterinário, então está aı́, uma veterinária. 
                 Maria Clara seguiu até onde estava a condessa.
                  Observou que a outra não a fitava diretamente, nem entendia o motivo de tanta raiva.
                  -- Posso montá-lo e levá-lo para a fazenda? – Indagou relutante.
                  -- Como é que é? – Vitória foi até ela. – Você quer montar o meu cavalo? – Indagou com as mãos nos quadris. – Não achas que está avançando muito não?
                    A morena respirou fundo, não queria brigar.
                   -- Estou aqui como veterinária. – Disse chutando uma pedrinha. – Não como sua inimiga e tampouco como sua amante.
               Mattarazi sentiu um arrepio na nuca só em ouvir a última palavra, então só naquele momento notou como a jovem parada a sua frente estava ainda mais bonita. Ela usava short jeans, curto, camiseta e botas de cano alto. Os cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo.
                    -- O que ele tem? – Apontou para o animal.
                     -- Não tenho certeza, mas chutaria que ele está com raiva de ti.
                    -- De mim? – Indagou surpresa, fitando-a. – Não fiz nada para o Bastardo.
                   -- Bem, essa é uma das explicações para o comportamento dele. 
                    A condessa a encarou por alguns segundos.
                    -- Vou lá com ele novamente.
                   Clara lhe deteve pelo braço.
               -- Não o faça ou vai estressá-lo ainda mais. – Afastou a mão ao sentir o corpo reagir. – Deixe-me levá-lo até a fazenda. Ele ficará seguro lá.
                   -- Quem você pensa ser? Só porque tem um diplominha acha que pode invadir as minhas terras e dar uma de salvadora? – Bateu com a mão fechada no carro. -- Faça como você quiser, princesinha!
                  Vitória parecia ainda mais exasperada ao entrar no veı́culo e sair em alta velocidade. Miguel se aproximou.
                     -- E então?
                     -- Irei lavá-lo para a fazenda! – Disse convicta.
                     -- Quer que vá buscar uma sela?
                     -- Não, se ele não me derrubar, não tenho problema em montar em pelo. 
                      Caminhou até onde estava o animal e voltou a tocá-lo.
                 -- Calma, rapaz, acho que você precisa perdoar a sua dona, seja lá o que ela tenha feito com você. – Deu-lhe uma cenoura. – Será que vais me derrubar? – Sorriu. – Por favorzinho, não faça isso, a sua condessa vai rir muito de mim se isso chegar a acontecer.
                  Delicadamente, impulsionou o corpo e ficou sobre o poderoso cavalo. Esperou a queda, mas o bicho permaneceu calmo, sendo assim, ela seguiu em trotes lentos até a sede das terras de Vitória Mattarazi.


                    Miguel chegou com Batista e esperaram por Maria Clara.
                    O advogado veio trazendo o veı́culo da jovem, enquanto o administrador trouxe o dele.
                  Ela falou para que eles seguissem na frente, pois temia que pudessem assustar o garanhão.
                 Desceram e perceberam que o carro da condessa ainda estava em frente a casa, não o tinham levado para a garagem. Esperaram em silêncio até verem Maria ir até eles.
                     -- O que aconteceu? – Falou baixo. – A patroa chegou cuspindo fogo.
                     -- Onde ela está? – Miguel indagou.
                 -- Trancou-se no escritório, mas antes esbravejou com os empregados e mandou todos saı́rem daqui. 
                     Os dois homens se olharam por alguns segundos.
                   -- Por que ela está assim? – Então a empregada viu Maria Clara se aproximando, montada no garanhão. – Virgem santı́ssima, é hoje que o mundo acaba.
                    A mulher seguiu imediatamente para dentro.
                   A jovem Duomont seguiu até o estábulo e deixou o animal em sua baia. Quando já estava saindo viu a égua branca, aquela que se encantara tanto no dia do leilão. Bastardo também a notou e pareceu ficar agitado.
                   -- Está com ciúmes... – Disse para si mesma. 
                     Caminhou até onde estava os dois homens.
             -- Obrigada, Clara! – Miguel estendeu a mão. – Quanto lhe devo? 
                  A garota aceitou o cumprimento e sorriu.
                  -- Pensei que a Mattarazi quem fosse pagar.
                  -- Nem brinque, pois até demitido todos já estamos.
                  -- Eu preciso vê-la. – A moça falou.
                  -- Você só pode estar louca. – Batista se intrometeu. – Do jeito que ela está, pode lhe jogar da escada. 
                  Clara gargalhou divertida.
                  -- Eu apenas que falar pra ela o que se passa com o Bastardo. Acho que descobri.
             Os dois não pareceram muito convencido, porém diante da determinação da neta de Frederico, o advogado decidiu acatar o pedido.
                   -- Venha comigo!
                    Batista os observou se afastarem e ficou ainda mais preocupado.
                   -- Santo Cristo, não permita que ocorra uma tragédia.


                 Vitória estava sentada, com a cabeça virada para trás e com os olhos fechados. Naquele momento deseja apenas relaxar, pois estava muito irritada.
                      Massageou as têmporas, tentando controlar a respiração.
                     Levantou-se e caminhou até o pequeno bar, serviu-se de uma dose de cachaça, sentindo-a arder em sua garganta.


                Clara ficou extasiada com a decoração do interior da mansão. Era um lugar realmente muito bonito e dava para ver que os móveis eram italianos, outros rústicos, causando uma contraditória harmonia.
                 -- Bata, se ela atender você entra, mas se ela esbravejar, acho melhor não insistir. Ficarei esperando aqui. 
                  A jovem viu a enorme porta e mesmo diante da fera que estava do outro lado, não hesitou.

                  A condessa ouviu a batida delicada.
                 -- Já disse que não desejo ver ninguém! – Falou brava.
                 -- Preciso lhe falar sobre o Bastardo...
               Vitória não acreditava que aquela mulher estava em sua casa, como era capaz de tamanha ousadia?
                  Fechou as mãos fortemente.
                  Sentou na pontinha da mesa e ficou a mirar a porta.
                Aquela garota não sabia o quanto estava se arriscando, não tinha ideia de como estava correndo perigo naquele momento...
                 Bebeu mais um pouco.
                Clara já estava desistindo, quando viu a porta se abrir.
               Observou o lugar mergulhado na penumbra, mas mesmo assim entrou, viu a porta se fechar e lá estava a condessa, sentada, ereta, com aquela pose de rainha.
            -- Eu acho que sei o que o Bastardo tem. – Adiantou-se entusiasmada. 
            Vitória arqueou a sobrancelha.
           -- Tenho quase certeza de que ele está com ciúmes da égua branca. – Falou entusiasmada. – Você a esteve montando esses dias?
             -- Sim! – Levou o copo a boca. – Estou a domar a Branca de Neve, então necessito de montá-la constantemente.
               -- Branca de Neve? – Perguntou confusa.
                -- Sim, esse é o nome dela.
                Clara tentou não se irritar, mesmo ao ver os olhos verdes brilharem em provocação.
            -- Bem, então tente ver como pode resolver o problema, pois o seu amado Bastardo não parece interessado em dividir a dona. – Respirou fundo. – Era só isso o que eu tinha para falar. Passar bem. – Caminhou até a porta e tentou abrir, em vão. – Poderia me deixar sair? – Pediu sem se voltar.
                 -- Não!
              A bela Duomont sabia o jogo de Vitória, mas tentaria não perder a cabeça discutindo com ela. Voltou-se.
               -- Tenho certeza que não foi isso que quis dizer, senhora condessa, então repetirei, abra a porta. – Sorriu.
             Vitória caminhou lentamente até ela, ficando a apenas alguns centı́metros de distância. Encarou-a, fitou aqueles olhos negros intensamente.
                -- Não deveria ter vindo aqui... – Deu mais um passo. – Na verdade, você não deveria ter entrado na minha vida. 
                Mesmo estando escuro, Maria conseguia visualizar bem os olhos da mulher parada a sua frente, brilhavam friamente.
                -- Vim porque o Miguel me chamou. – Respondeu. – Como já disse antes, volto a repetir, não tenho nada contra você, não sou sua inimiga.
                -- Mas eu sou sua inimiga! – Pressionou-a forte contra a madeira. – Eu quero ser sua inimiga, eu quero te odiar, quero te destruir, quero que sofra... – Dizia por entre os dentes. – Quero que sinta a mesma dor que eu sinto.
                    Clara espalmou as mãos em seu peito para impedir o contato.
                   -- Deixe-me sair... – Tentava continuar calma.
                   -- Por que veio aqui? Para me provocar? É isso que você pretendia?
                 -- O Miguel me chamou. – Repetiu. – Se ele não tivesse me ligado, eu não teria vindo. 
                  A condessa aspirou o cheiro que se depreendia do corpo dela. Aproximou-se mais.
                A neta de Frederico sentia as reações do corpo, tentou se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse o desejo que começava a se rebelar dentro de si.
                 -- Acho que seu short é muito curto. – Sussurrou em seu ouvido. – Não deveria andar por aı́ vestida assim. 
                     Clara mordiscou o lábio inferior.
               -- Está tremendo? – Tocou-lhe o seio esquerdo. – Está com medo, Branca de Neve? – Provocou-a.
                  Vitória sentia os seios dela reagirem e isso a deixou em brasas. A única coisa que desejava naquele momento era possuı́-la mais uma vez.
                   -- Não... – Negou com voz rouca. – Não tenho medo da rainha má...
                   -- Nem se ela fizer isso... ?
                 Maria sentia os dedos lhe abrindo o short e lhe tocando a calcinha. Mordeu o lábio inferior.
                  A condessa sentiu o tecido molhado...
                  Impetuosa, deslizou a mão sob a lingerie, sentindo o quão escorregadia estava.
              -- Tenho ganas de devorá-la, de tomá-la... de comê-la... – Sussurrou ao seu ouvido. 
              Clara gemeu ao sentir a carı́cia exigente, os movimentos circulares...
                Segurou-lhe a mão, cessando a tortura.
                -- Deixe-me ir...
                Vitória se afastou, mas retornou para ela, puxando-a para si, calando os protestos com um beijo.
            A Duomont precisou se apoiar nela para não cair. Abraçou-a, enquanto tinha a boca dominada, enquanto sentia a lı́ngua sendo sugada, chupada com sofreguidão.
                   Da mesma forma que começou, muito rápido o beijo terminou.
                  -- Vá, antes que eu faça uma loucura.
                  A condessa contornou a escrivaninha, sentando-se na cadeira.
                  Clara a encarou por alguns segundos, seguiu até a porta e se voltou para ela.
                  -- Posso te pedir uma coisa?
                  A ruiva fez um sutil gesto afirmativo com a cabeça.
                -- Não demita os seus funcionários, eles não tiveram culpa do que ocorreu, pense que eles precisam desse trabalho para sustentar a famı́lia, quanto ao Miguel, ele só quis ajudar.
                  Antes que Mattarazi pudesse falar algo, Maria Clara foi embora.

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