A condessa bastarda -- Capítulo 15
Vitória despertou, tentou se mexer, mas algo a impediu. Clara Jazia com a cabeça em seu peito e a longa perna sobre as suas. Ouviu a respiração lenta e sorriu, abraçando-a.
Olhou pela janela que permanecera aberta e percebeu que dentro de poucas horas estaria amanhecendo.
Há pouco tempo adormecera, ficara pensando em tudo que se passou naquela noite. Sabia que aquilo deveria ter sido evitado, mas como poderia tê-lo feito? Ainda tentara não seguir em frente, mas o desejo de tomá-la em seus braços foi incontrolável, tanto que nem mesmo fora sensível o suficiente para perceber a pureza da jovem.
Tocou-lhe as madeixas e ficou a se deliciar com a maciez dos fios perfumados. Por que teve que se encantar logo pela neta de Frederico?
Sabia que jamais poderiam ficar juntas, pois havia muito ódio e rancor presente entre ambas. Aquele pensamento era perturbador, ainda mais quando sentia uma felicidade tão grande por estar ali, tendo a bela princesinha nos braços. Pensou em levantar e sair, fugir novamente, mas decidiu aproveitar um pouco mais aquela sensação única de contentamento que jamais experimentara em toda sua vida.
Ouviu-a resmungar e achou engraçado.
-- Xiiii! – Embalou-a. – Estou aqui, Branca de neve. – Falou baixinho. – Não irei embora dessa vez.
As palavras pareceram tranquilizar a moça que se aconchegou ainda mais nos braços da amante.
Fechou os olhos, dormiria mais um pouco.
Frederico lia o jornal matutino. Estava esperando o filho e a nora para o desjejum.
-- Bom dia! – Clarice o cumprimentou com um beijo na face e sentou-se. – Felipe não descerá, pois não está se sentindo muito bem. – Avisou comendo uma torrada.
-- O que ele tem? – O polı́tico deixou o periódico de lado. – Não é melhor chamar o médico?
-- Não, ele apenas comeu algo que não lhe fez bem, mas já lhe dei algo e daqui a pouco já estará melhor.
-- Se você diz... – Tomou um pouco de café.
Clarice precisou servir, pois das quatro empregadas que tinham, apenas uma restou, pois as outras decidiram sair, devido ao atraso dos pagamentos.
-- Meu sogro... – A mulher começava. – Precisamos resolver essa situação financeira, daqui a pouco não haverá mais ninguém para nos servir.
-- Isso já está sendo resolvido. – Voltou a ler o jornal. – Clara sairá vencedora do pleito e isso resolverá todos os nossos problemas.
-- Bem, sendo assim, fico muito feliz por isso, só em pensar em não ter pessoas para cuidar do funcionamento da casa chega a me dar nos nervos. – Completou arrogante.
Maria Clara despertou, sentindo os braços lhe enlaçarem a cintura. Fechou os olhos e se deliciou com aquele toque possessivo.
A mente recordava de cada detalhe da noite passada. Dos corpos se buscando, das bocas se unindo... Sentiu um arrepio na espinha!
Virou-se lentamente para não acordar a condessa e ficou a observando. Como poderia estar ainda mais linda?
Fitou o semblante e ficou encantada com algumas sardas que repousavam perto do nariz. Os cabelos avermelhados, desgrenhados, lhe deixava ainda mais bela.
Mirou os lábios bem desenhados e a tez arrogante.
Como foi se apaixonar tão loucamente por aquela mulher? O resmungar de Vitória lhe tirou de seus devaneios.
Fitou o relógio e percebeu que eram quase sete da manhã. Decidiu tomar um banho e seguiu para o banheiro.
Algum tempo depois...
Retornou aos aposentos e ficou a fitar a bela ruiva deitada entre os lençóis de seda. Linda!
Seu coração acelerava só em olhá-la. Havia uma expressão de tranquilidade naquele rosto que só parecia saber exibir sarcasmo.
Sorriu encantada!
Poderia passar a eternidade ali, eternizando aquela figura perfeita. Ouviu o som da campanhia.
Amarrou o roupão e seguiu até a porta.
Pedira que trouxessem uma bandeja com café da manhã e no centro havia uma rosa branca.
Agradeceu e retonou para perto da amada. Deixou o desjejum sobre a mesinha de cabeceira, em seguida se aproximou de Vitória, beijando-a sutilmente.
Os olhos verdes lentamente foram se mostrando, de inı́cio pareciam confusos, mas ao ver a jovem que lhe saudava com um lindo sorriso, as cenas da noite passada voltaram a fazer sentido.
-- Bom dia, senhora condessa!
Vitória sentiu o toque rápido nos lábios e depois a viu se afastar. Clara pegou a bandeja e sentou na cama de pernas cruzadas.
-- Bom dia, princesinha! – Espreguiçou-se demoradamente, em seguida se acomodou encostada na cabeceira. – Nossa, quanto capricho.
A neta de Frederico a viu puxar o cobertor para cobrir a nudez, sentiu o desejo reviver. Corada, entregou-lhe a rosa.
-- Para que sempre se lembre de mim.
A bela Mattarazi hesitou antes de receber o mimo. Algo dentro de seu peito parecia se agitar. Sempre recebera presentes, buques de flores, as mais belas, então por que aquele gesto singelo lhe tocava tanto?
Encarou-a.
Os olhos negros brilhavam.
-- Por que uma rosa branca? – Indagou, recebendo e observando o presente delicado.
-- Não sei... -- A jovem disse sem jeito.
A condessa tocou as pétalas delicadas, em seguida aspirou o aroma...
-- Bem, Branca de Neve, acho que já sei a resposta. – Colou os lábios nos dela em uma carı́cia lenta, cheia de emoção. – Bem, quanta comida. – Sorriu. – Quer me engordar? – Arqueou a sobrancelha divertida.
-- Não, não... -- Falou sorrindo. -- Mas não sabia o que pedir, então tive a ideia de pedir um pouco de tudo, espere que algo lhe agrade.
Vitória observou e ficou encantada com o cuidado que a jovem sempre demonstrava. Havia um verdadeiro suprimento de comida. Torradas, leite, suco, geleia, queijo, biscoitos, pães, uvas, morango...
-- Teria como não gostar?
Clara a observou tomar leite e depois a imitou, comendo por alguns segundo em silêncio.
-- E então, o que está fazendo na capital? – A ruiva levou uma uva à boca da amada. – Não diga que veio atrás de mim. – Gracejou.
A morena ao comer a fruta, capturou os dedos da ruiva, sugando-os... Notou os olhos verdes se estreitarem, escurecendo...
-- Já te disseram que és muito convencida, condessa? – Soltou-lhe.
-- Algumas tantas vezes, nada que me atinja. – Brincou. – Afinal, fofoca de oposição não se dar muito crédito. – Piscou o olho, desdenhosa.
-- Sei! -- Estreitou os olhos e meneou a cabeça.
A poderosa Mattarazi a observou passar geleia na torrada e levar a boca. Viu-a se sujar e não resistiu ao desejo de provar mais uma vez daquele sabor.
Afastou a comida para o lado, em seguida, segurou-lhe a nuca e a trouxe para bem perto de si. De inı́cio, apenas limpou- lhe o canto da boca com toques rápidos, em seguida desenhou-lhe os lábios com a lı́ngua.
-- Não há mulher mais linda do que você em todo o universo... – Sussurrou. – Ainda mais quando fica corada, parece uma princesinha...
Clara umedeceu os lábios.
-- Por que me chama de princesa de contos de fadas?
-- Porque você é uma...
A jovem Duomont nem teve tempo de retrucar, pois sua boca foi tomada apaixonadamente. Cheia de perı́cia, Vitória explorava cada canto, capturou-lhe a lı́ngua, chupando demoradamente. Introduziu a mão por entre o roupão de Maria e tomou os seios em suas mãos, Apertou-os, arrancando gemidos da garota.
A condessa parecia estar faminta por outra coisa, pois se encostou na cabeceira da cama e trouxe a amada consigo, sentando em seu colo em posição de amazonas.
A neta de Frederico permitiu que ela lhe afastasse o robe, não havia nada por baixo, apenas a sua pele arrepiada e sedenta por carı́cias.
Relanceou a cabeça para trás para permitir que a boca da ruiva lhe mamasse os seios. Sentiu as mãos descendo, afagando-lhe a barriga, massageando-lhe as coxas e parando em seu sexo.
-- Vitória... – Pronunciou o nome dela baixinho.
-- É isso que você quer...
Clara sentiu os dedos lhe acariciando, enquanto a boca retornava ao colo. Sentia-a delicada, enquanto o polegar lhe tocava a pequena fruta, apertando-o, incitando-o mais e mais, até invadi-la.
-- Ainnn... – A morena sentia a paixão ficar mais forte.
Cravou as unhas na palma da mão e esperou, mas Vitória apenas a fitava. Seu corpo se adequava a dominação, mas aquilo não era o suficiente. A sensação de tê-la parada dentro de si a estava deixando louca, então começou a movimentar o quadril, imperando o ritmo e vendo a condessa segui-lo deliciosamente, penetrando-a com mais ı́mpeto, aumentando as estocadas, tirando-lhe o fôlego.
A ruiva ouvia os gemidos e isso a estava deixando ainda mais excitada, tocava-lhe com um único dedo, pois temia machucá-la, mas ao tê-la tão predisposta, aumentou ainda mais a pressão.
As mãos da Duomont chegou ao corpo de Vitória e ao lhe notar tão molhada, a invadiu forte.
Ouviu-a gritar seu nome e rebolar cada vez mais rápido, sentiu-a lhe prender os dedos e depois soltar, a invadiu mais e mais, ao mesmo tempo que sentia que não aguentaria por muito tempo... As duas mulheres gritaram em um orgasmo arrebatador, cheio de paixão e de desespero pelo que sabiam não poder mais controlar.
Frederico andava de um lado para o outro no escritório. Ligara inúmeras vezes para o celular da neta e não obteve nenhuma resposta.
O amigo banqueiro lhe informara que a jovem não tinha ainda aparecido e o combinado tinha sido nove horas. O que poderia ter acontecido?
Impaciente, ligou para o hotel e ficou sabendo que ela não tinha saı́do do quarto até àquela hora, porém nenhuma das ligações era atendida.
Decidiu tentar mais uma vez o celular de Maria Clara.
Clara repousava nos braços da amada quando ouviu um som. Parecia vir de tão longe que de inı́cio nem se preocupou, mas a insistência era tão grande que sabia que não deveria fazer parte de sua imaginação.
Abriu os olhos e tentou se concentrar melhor. O celular!
Levantou da cama em um pulo e seguiu em busca do aparelho, o encontrou sob a pila de roupas, rapidamente atendeu.
-- Vovô! -- Respondeu com o rosto em chamas.
Vitória sorriu do jeito atrapalhado da jovem. Decidiu ir tomar um banho para deixá-la mais à vontade.
Miguel chegou à fazenda Mattarazi, recebera uma ligação de Batista que parecia preocupado.
Estacionou e seguiu para o interior da casa grande. Encontrou o homem no escritório da condessa, sua expressão estava um pouco carregada.
-- O que houve? – O advogado já foi falando. – Vim assim que recebi o recado.
-- O cavalo da condessa sumiu. – Disse cheio de pesar. – O procuramos por todos os lugares e não há sinal do bicho.
-- Mas como isso pode ter acontecido? Essas terras estão cheias de seguranças. – Passou a mão pelos cabelos. – A Vitória vai enlouquecer quando souber disso. Já estão procurando o animal?
-- Sim, mas parece que ele foi tragado pela terra.
-- Batista, isso não tem explicação. Todos sabemos como aquele cavalo é arredio. Só a condessa consegue lidar com ele.
-- Eu sei, por isso acho que ele fugiu. Não tinha como alguém conseguir pegá-lo, ao menos que...
-- Não ouse pensar isso... Vitória é capaz de matar por seu cavalo. – Colocou a mão no ombro do idoso. – Vamos encontrá-lo, eu prometo!
Maria Clara ficou parada no meio do quarto olhando para o celular.
O avô estava possesso, pois ela deveria estar no banco há mais de uma hora. Como fora se esquecer disso?
Tivera que inventar uma desculpa para Frederico. Não gostava de mentiras, mas como poderia dizer que tinha passado a noite nos braços da condessa e por esse motivo tinha esquecido o compromisso tão importante?
Ouviu o som do chuveiro.
Vestiu o roupão e esperou. Viu Vitória aparecer enrolada em uma toalha. Respirou fundo!
Cada vez que via aquela mulher, mais seu corpo a desejava.
-- Algum problema? – A ruiva indagou.
Clara caminhou até ela, maravilhada. Os cabelos vermelhos estavam mais escuros por estarem molhados.
-- Eu preciso resolver um problema... – Disse relutante. – E depois já retorno para casa.
Vitória a encarou por alguns segundos. Por um instante foi possível ver a decepção naqueles olhos verdes, mas depois reinou a indiferença.
-- Certo! – Disse arrogante. – Vou me vestir e já estou saindo.
A Duomont a deteve.
-- Por favor... – Pediu. – Não quero que fiquemos assim.
A condessa estreitou os olhos, retirando-lhe a mão que lhe prendia.
-- E como você quer que fiquemos? Nós sabemos o que somos e sabemos que fazemos partes de lados separados.
-- Eu não faço parte de lado algum. – Negou. – E foi tão maravilhoso ontem, estivemos juntas, fizemos amor... Eu me entreguei para ti... – Completou em um fio de voz.
-- Acho melhor você se arrumar para ir resolver os seus problemas, não acredito que seu avô vai gostar dessa sua demora.
Maria Clara a encarou por alguns segundos e por fim assentiu. Observou-a por um instante, viu-a se vestir...
Não desejava ir embora, o que mais queria era fica ali, junto à condessa, porém sabia que não poderia, tinha suas obrigações a cumprir e havia sua família.
-- Vitória... – Chamou baixinho.
A ruiva acabou de se vestir e se virou para ela.
-- O quê? – Perguntou rı́spida.
A morena caminhou até ela, ficando por alguns segundo olhando-a. Maria Clara a abraçou surpreendendo a condessa.
Mattarazi ficou com os braços caı́dos ao lado do corpo, enquanto a jovem a estreitava forte.
-- Não me odeie... – Clara sussurrou ao seu ouvido.
Permaneceram naquela posição por instantes intermináveis, até a bela Duomont se afastar e seguir em direção ao banheiro, sem nem mesmo olhar para trás.
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