A condessa bastarda -- Capítulo 13


                     Valentina estacionou em frente à casa grande. As luzes iluminava o bonito lugar. Não desceu, mas viu Batista vindo em sua direção.
                        -- Boa noite, delegada! – Cumprimentou-a tirando o chapéu.
                     -- Boa noite! – Sorriu. – Gostaria de falar com a condessa. – Pediu, torcendo para que ela estivesse ali.
                        -- Algum problema? – O homem indagou preocupado.
                       -- Não, apenas queria fazer umas perguntas a ela. 
                      A expressão do idoso pareceu mudar.
                      -- Ela não se encontra, saiu faz um bom tempo e ainda não retornou. 
                      Valentina meneou a cabeça afirmativamente.
                      -- Tem ideia de onde ela possa ter ido?
                -- Bem, eu acredito que esteja no rio, ela gosta de ir nadar em noites de lua cheia. 
                     A delegada não entendia o motivo, mas tinha uma intuição. Despediu-se do homem e decidiu seguir em direção indicada.


                   Marcelo chamou o filho ao escritório.
                O polı́tico parecia preocupado com o rumo que se seguiu a reunião na casa dos Duomont. Não gostara de rebeldia que viu nos olhos de Maria Clara e ficara surpreso quando a jovem, meiga, enfrentara arrogantemente o avô.
                 -- Sim, papai! – O jovem entrou, sentando-se. – O que deseja?
                 -- Falou com sua noiva?
                 -- Não, ela não atende e ao ligar para a casa dela, me disseram que ela não se encontrava.
               -- Como não se encontra? – Levantou-se, apoiando-se no tampo da escrivaninha. – Está tarde e ela deveria estar em casa e não na rua.
                  -- Ela saiu quando discutiu com o Frederico e não retornou. – Disse simplesmente.
               -- E você fala assim? Calmamente? – Irritou-se. – Quero que vá a procura dela e também exijo que tente falar com ela e a acalme, faça-a entender o quão louca é essa ideia de abandonar a campanha.
           Marcos pareceu não gostar das palavras que ouviu, porém não poderia questionar ou desobedecer às ordens. Lembrou-se da noiva e ainda não conseguia acreditar que ela enfrentara o poderoso polı́tico, algo que poucos faziam.
                   Sentia-se mal por não ter intercedido e a defendido, mas não era tão destemido assim. Desanimado, levantou-se e foi fazer o que lhe fora ordenado.


               A delegada encontrou o carro da condessa estacionado próximo ao de Maria Clara. Rapidamente, desceu e caminhou, não estava escuro e pode vê-las...
                        -- O que está acontecendo aqui?
                       Clara levantou-se rapidamente, enquanto a condessa fitava a delegada.
                       A jovem Duomont cobriu o corpo com as roupas. Sentia o rosto pegar fogo. Vitória não pareceu se importar em estar totalmente despida diante da autoridade. 
                       Levantou-se com a arrogância costumeira e fitou a delegada.
                  -- Acho que precisarei contratar mais seguranças, pois agora virou moda invadirem minhas terras.
                     -- Vitória Mattarazi! – Valentina falou exasperada. – Diga-me o que houve aqui e eu espero que não seja o que estou pensando.
                        A ruiva fitou a neta de Frederico e estreitou os olhos furiosamente.
                      -- Pergunte a princesinha de contos de fadas, porque eu não devo nenhuma explicação a você, nem a ninguém. 
                Maria Clara se sentiu magoada, vendo-a se vestir e em seguida caminhar altiva até o veı́culo.
                      A ruiva voltou-se antes de entrar no carro.
                    -- Deveria prendê-la por ela ter se aproximado de mim, por ter entrado sem pedir... Por ter invadido algo que jamais fora profanado, afinal, há uma ordem de restrição...
                      A jovem Duomont a mirou mais uma vez, entes de vê-la seguir sem mais palavras. Teve um desejo enorme de chorar, mas não o faria, não daria esse prazer a poderosa condessa.
                      -- Vista-se! – Valentina lhe entregou as roupas e virou de costas.
                     Sabia que sua intuição não a enganaria, mas nunca pensara que as coisas tivessem ido tão longe.
                   Desde a primeira vez que as viu juntas teve a sensação que havia uma atmosfera diferente, mas tentara se convencer de que aquilo eram apenas coisas da sua cabeça, até se deparar com aquela cena.
                   Sentia um frio na espinha ao imaginar a guerra que ocorreria se aquilo chegasse aos ouvidos de Frederico.
                       -- Pronto!
                      Ouviu a voz da jovem e se voltou para ela.
                       -- Sabes que cometeu a maior loucura de sua vida, não sabes?
                    Maria Clara a encarou por alguns segundos, parecia sem palavras, havia uma nó em sua garganta.
                     -- A condessa usará o que aconteceu aqui contra ti, não pense que há algum sentimento por parte dela. – Falou duramente. – Vitória Mattarazi irá te destruir e ela já sabe a arma a usar.
                 -- Eu não tenho medo, delegada. – Arqueou a cabeça orgulhosa. – E quanto a ter sido usada, bem, eu a usei para o meu prazer. – Disse desafiadoramente.
                     Valentina a fitou surpresa, mas preferiu não argumentar.
                   -- Seu pai está desesperado a sua procura. – Seguiu até o carro. – Vamos embora que já está muito tarde. 
                 Clara ainda voltou a olhar o lugar onde há pouco tempo teve a poderosa mulher nos braços. Estreitou os olhos, mas preferiu fazer o que fora dito por Valentina. Entrou em seu veı́culo e seguiu devagar.
                Seu corpo ainda estava em choque por tudo que havia se passado. Não tinha nenhum sentimento de arrependimento pelo o que tinha feito. Sabia que se deixara dominar, mas não só por seu desejo, mas por aquele sentimento que há tempos criara morada em seu coração. Sim, poderia negar para o mundo, mas para si não, estava completamente apaixonada por Vitória Mattarazi, apesar de todos os esforços que fizera, não tivera êxito em sufocar àquele sentimento.
                      Respirou fundo ao ver as luzes da casa grande ao longe.
                    Não tinha falsas ilusões em relação à ruiva. Percebera o arrependimento nos olhos verdes e depois o asco, sim, ela tinha também perdido o controle, mas decerto não o fizera pelo mesmo motivo da outra.
                      Ouviu o celular tocar e ao fitar o aparelho viu a foto do noivo.
                    Não desejava falar com ninguém naquele momento, apenas chegar a sua casa e se trancar em seu quarto.


                    Batista viu a patroa estacionar em frente à mansão.
                  Ele a conhecia desde que era uma menina e sabia que algo não estava bem. O perfil forte aparentava fragilidade, medo... Aproximou-se.
                -- Está tudo bem, condessa? – Abriu a porta do carro para ela sair. 
                 A ruiva parecia distraı́da.
                -- Estou! – Caminhou até a casa, mas pareceu mudar de ideia.
                 -- A delegada esteve a sua procura. Vitória o mirou por alguns segundos.
               -- Eu quero que a vigilância no rio seja redobrada e qualquer um que aparecer por lá tem que ser imediatamente retirado. – Disse firme. – Estou cansada dessas malditas invasões.
                O administrador assentiu.
                -- Mais alguma coisa?
                 Ela maneou negativamente a cabeça.
               -- Vou para o meu quarto e não desejo ser incomodada por ninguém. O velho assentiu mais uma vez e a observou se afastar.


               Frederico estava na janela do seu quarto quando viu o carro da neta estacionar.
           Sentiu-se aliviado, pois pensara que algo ruim tinha acontecido com a jovem. Controlou o desejo de ir até ela. Precisaria continuar sendo enérgico, pois não poderia permitir nenhum tipo de rebelião por parte da mesma.
             Engraçado como Maria Clara era diferente, sua justiça e dignidade não permitiam que ela se importasse com valores monetários. Tão diferente da tia!
             Voltou a deitar, apagando as luzes.
          Precisava convencê-la de continuar a disputar o pleito, teria que fazer tudo para que ela não desistisse ou tudo estaria perdido.
        Não havia mais dinheiro e até as roupas que eles usavam pertenciam ao banco e se não resolvesse imediatamente todo esse problema, perderia tudo.
              Não!
              Jamais conseguiria viver com essa vergonha!
           Ele era Frederico Duomont, o homem mais respeitado de toda a região, o governador mais bem votado e ilustre que o estado tivera. Não sofreria nenhuma humilhação, nem que para isso precisasse vender a própria alma ao Diabo.



             -- O que houve, amor? – Miguel indagou ao ver a esposa entrar no quarto. 
              O advogado seguiu até ela, cumprimentando-a com um beijo.
              -- Pensei que você tinha dito que viria cedo.
              Ela passou as mãos por suas madeixas longas e respirou fundo.
               -- O que houve? Problemas?
               Valentina caminhou até a cama e sentou.
             -- Eu estava vindo para casa quando o pai de Maria Clara me procurou, parece que a garota tinha tido um problema familiar e saı́ra de casa e não tinha voltado.
              -- Nossa! – Ajoelhou-se, pegando-lhe as mãos. – Mas ela está bem? A delegada apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
               -- Então, está tudo bem, meu amor! – Sorriu.
             A morena encarou o marido. Não gostava de falar sobre os problemas do trabalhou ou os casos com ele, mas verdadeiramente necessitava de compartilhar com alguém o que se passou e quem melhor que o tio da Mattarazi.
             -- Miguel... – Deu uma pausa. – A neta de Frederico estava nos braços da condessa! – Disse de supetão. 
             O homem arregalou os olhos, perplexo.
             -- Quê?
             Valentina cobriu o rosto com as mãos.
             -- Elas estavam transando!
             O advogado levantou-se e ficou a caminhar de um lado para o outro.
           -- Não, não, isso é uma loucura. Primeiro, a Vitória odeia a garota e segundo, a Vitória não é lésbica.
          -- Bem, a minha tese é que ela fez para poder destruir a famı́lia Duomont. 
            O homem parou, mirando-a.
           -- Não, isso é uma loucura! Você tem certeza do que está dizendo? Pode ter sido engano, afinal, ás vezes, interpretamos errado as coisas.
           -- Não, acredite, tudo o que eu falei é a mais pura verdade e agora estou a pensar o que acontecerá se a sua sobrinha usar isso contra a Clara. – Levantou-se. – A condessa Mattarazi não tem limites.
              Miguel a observou seguir até o banheiro e ficou lá, parado, pensando à proporção que um pequeno problema tomaria depois desse fato.


                  A condessa banhou e depois se deitou, sentia-se esgotada.
                Ficou a olhar a escuridão do quarto, talvez parecida com a própria escuridão que ela trazia dentro de si. Tentara inutilmente não pensar no que havia se passado, mas agora sua mente parecia ter vencido a batalha.
            Mordeu o lábio inferior ao recordar dos beijos, dos toques, do cheiro da bela Duomont. Irritou-se ao se lembrar de que a garota não ouvira seus protestos e continuara com suas carı́cias.
             Tinha sido desgraçadamente dominada pelo desejo de tê-la para si, e mesmo que odiasse admitir, seu corpo clamava por tudo novamente.
                  Não, não e não, Vitória Mattarazi não era lésbica!
               Nunca em sua vida sentira atração por mulheres e mesmo não sendo preconceituosa, sempre se envolvera com homens, tivera alguns amantes, mas jamais se sentira totalmente frágil em seus braços, nunca se deixara possuir de forma a assumir o lugar de dominada, o que não ocorrera naquele dia, fora subjugada por aquela garota, possuı́da e mesmo que odiasse admitir, se a delegada não tivesse aparecido, decerto se entregaria mais uma vez nos braços da inimiga.





                    Maria Clara não explicou onde estava, apenas, dissera ao pai que precisava ficar sozinha.
                Seguiu para a varanda do quarto, deitou-se na rede e ficou a mirar a enorme lua que banhava e iluminava a noite fria. Ouviu a porta sendo aberta e notou a presença de Clarice.
                 -- Um absurdo o que você fez hoje! – A mulher já chegou esbravejando. – Como ousou enfrentar o seu avô na frente de todos? – Indagou com as mãos na cintura.
                     A garota sentou-se.
                   -- Eu sinto muito, não quis agir daquele jeito, amanhã me desculparei com o vovô.                                Mesmo na escuridão, sentia o olhar perscrutador da matriarca.
                  -- Ok! – Disse por fim. – Nunca mais saia e nos deixe desesperados a sua procura. Marcos ligou inúmeras vezes. 
                     Clara maneou afirmativamente a cabeça em concordância.
                     -- Onde você estava? Seu pai virou a cidade a sua procura.
                  -- Eu... – Pigarreou. – Fiquei... Fiquei dirigindo sem rumo, nem mesmo lembro onde estava indo.
                      -- Certo, mas que isso não aconteça mais. --Aproximou-se da filha, beijando-a na face.
                        -- Deve ir dormir, já está tarde.
                       -- Irei, mamãe, daqui a pouco.
                     A mulher se despediu, deixando-a sozinha. Como dormiria se sua mente estava a mil?                          Voltou a se acomodar.
                A última coisa que desejava era pensar na condessa, mas seu cérebro parecia buscá-la automaticamente.
                    Umedeceu os lábios e teve a impressão de que o gosto daquela mulher estava impregnado em si. O cheiro não lhe abandonara, mesmo tendo passado um bom tempo sob a ducha, persistia o aroma embriagante, delicioso.
O que faria agora de sua vida?
                     Como continuaria mantendo o noivado, quando suspirava por Vitória Mattarazi?
             Recordou-se das palavras da delegada, Valentina estava certa, a condessa jamais se envolveria emocionalmente com ninguém e menos com a neta do homem que mais odiava.
                    Lembrou-se da forma fria que fora tratada na presença da autoridade, teve a sensação de estar sendo humilhada, rebaixada a uma qualquer.
                     Não iria se entregar ao desespero e chorar, daquela vez agiria como a própria condessa o fez, indiferente, porém jamais permitiria que acontecesse novamente ou que a ruiva descobrisse o amor que sentia por ela.


                    Vitória acordou mais cedo do que de costume, na verdade, nem mesmo conseguira dormir e se cansou de ficar rolando na cama.
                         Vestiu-se e seguiu para o haras, ordenando que lhe trouxessem a égua. Caminhava de um lado para o outro, impaciente.
                      Notou Julieta e Batista a observando. Odiava aquela preocupação que via no olhar deles, ela não necessitava daquilo, realmente não suportava quando alguém demonstrava esse tipo de afeto, afinal, ela não retribuiria e nem mesmo se importava com isso.
                            Bateu com a chibata na madeira.
                           Observou os empregados se aglomerando e viu outros trazendo a linda árabe para si.
                       Era um animal de beleza excepcional, tão branco que seu pelo chegava a brilhar, a crina grande e macia era prateada. 
                           Sorriu ao ver os peões correndo ao ver o bicho levantar as patas dianteiras.
                            Tirou uma maçã do bolso, aproximou-se.
                            -- Olá, garota. – Estendeu a fruta. – Como dormiu?
                           A égua parecia desconfiada, agitada, mas o tom baixo da condessa pareceu acalmá-la.
                        -- Sabe, não precisa ficar tão arredia, eu te entendo. – Sussurrou. – A pior sensação que pode existir é alguém tentar te domar. – Sorriu quando o animal aceitou a maçã. – Acho que já tenho um nome para ti. – Acariciou a cara dela. – Branca de neve.
                      Vitória aproveitou a distração da égua e montou rapidamente, sentiu-a se rebelar, segurou firme, pois sabia que ela não se entregaria sem lutar, apertou as pernas no flanco do bicho, ouviu-a relinchar e levantar as patas em protesto, mas se manteve firme, até senti-la ceder aos poucos...
                        Ouviu os gritos de entusiasmos de todos e depois apenas a dor de ser arrematada para longe. Sorte que o lugar tinha areia ou teria se machucado.
                           Batista correu até ela.
                         -- A senhora está bem? – Ajoelhou-se. 
                         A ruiva passou a mão pelos cabelos.
                         -- Estou! – Gargalhou. – Só meu orgulho está ferido! 
                         O homem ajudou-a levantar.
                        -- Vai acabar se machucando sério, deixe esse bicho, é um animal selvagem que não se renderá tão facilmente.
                        -- Parecemos-nos muito nesse quesito.
                         Batista a viu se afastar e pediu para que levassem a égua para o estábulo.


                         Frederico estava em seu escritório quando ouviu batidas na porta.
                         -- Entre! – Ordenou.
                         O homem observou a neta se aproximar e apontou a cadeira para que ela sentasse.
                         -- Bom dia, vovô! – Cumprimentou-o.
                         O polı́tico não respondeu.
                         -- Eu queria que me desculpasse por ontem, não quis lhe desrespeitar. – Encarou-o.
                    O poderoso Duomont a fitou por intermináveis segundos, em seguida, deu a volta na mesa, agachando-se diante dela, segurou-lhe as mãos.
                       -- Meu anjo, eu que devo pedir perdão por tê-la machucado. – Disse com lágrimas nos olhos. – Não deveria ter agido tão brutalmente. – Tocou-lhe a face ainda avermelhada. – Descontrolei-me quando me comparou com a condessa.
                       Maria Clara viu as lágrimas banhando o rosto daquele homem tão poderoso e sentiu um aperto no peito, abraçou-o.
                  -- Nunca mais falarei novamente aquilo e acatarei tudo que me disser. – Disse entre prantos.
                         -- E eu prometo que lhe apoiarei em seu projeto de ajudar essas pessoas.
                         A garota sorriu ao ouvir aquelas palavras e mirou os olhos tão parecidos com os seus.                           -- Ganharemos, vovô, e o senhor retomará o prestı́gio de outrora.


                    Vitória seguiu para a cidade. Precisava falar com o veterinário sobre a vacinação do gado. Resolvendo o problema, decidiu não retornar ainda para a fazenda. Havia um barzinho bem frequentado, decidiu parar lá e comer algo, pois já eram quase quatro da tarde e ainda não tinha almoçado.
                       Pediu um sanduı́che e um suco e ficou a observar a movimentação das pessoas. Havia uma mulher, de idade avançada, sentada na praça com uma bacia vendendo cocadas. Observou que havia crianças pequenas junto a ela, quatro garotinhos sujos e uma garota que não deveria passar dos quatro anos.
                         Percebeu que eles não deixavam de olhá-la, ou melhor, o lanche que ela comia.
                         -- Que surpresa maravilhosa!
                    Ela observou Alex sentar ao seu lado, cumprimentando-a com um beijo rápido nos lábios.
                         -- O que faz aqui? – Indagou irritada. 
                         O jornalista sorriu.
                      -- Estava passando e tive essa maravilhosa visão, então não resisti e vim até ti, condessa.
                       Ela continuava a fitar as pessoas que continuava na praça tentando vender alguma coisa inutilmente.
                            -- Conhece aquelas pessoas? – Alex perguntou seguindo o olhar.
                    -- Não, só fiquei curiosa em vê-los. Não sabia que a cidade estava tão cheia de mendigos.
                      -- Bem, você vive viajando, então não deve ter conhecimento que muita gente sobrevive de ajuda do governo e isso não é suficiente.
                     -- E o prefeito?
                       O rapaz gargalhou.
                     -- Bem, você tem certeza que deseja falar sobre isso? Desde quando isso te interessa?                           Ela deu de ombros, levando o copo a boca e tomando o suco lentamente.
                      -- Apenas fiquei curiosa, realmente isso não me interessa mesmo.
                  O jornalista também pediu algo e ficou esperando a atendente anotar o pedido. 
                     A condessa ouviu o som do celular e observou a mensagem que tinha chegado. Miguel!
                     Ignorou.
                   -- Olha a princesinha dos Duomont!
                  Vitória fitou na direção que Alex apontava e se deparou com a jovem indo ao encontro da senhora.
                  Sentiu aquele descontrole emocional ao vê-la, um desejo enorme de ir até ela. Viu-a sentar e as crianças ficarem ao redor dela, embevecidas com sua beleza.
                  Ela estava linda, usando short e camiseta branca.
                  -- Será que ela já fez as pazes com o avô?
                  Vitória o encarou curiosa.
                  -- Ontem a garotinha foi esbofeteada tão forte que foi ao chão. – O homem falou.
                  -- O quê? -- Questionou perplexa.
                -- Pelo que fiquei sabendo ela não gostou de saber que estava sendo usada e se desentendeu com Frederico. 
                     A condessa voltou a fitar Maria Clara.
                Então, fora isso que ocorreu, sentiu uma raiva insana daquele maldito velho, como ele fora capaz de ser tão miserável e bater em alguém tão frágil fisicamente.
             De repente o olhar da Duomont encontrou o dela. Mesmo a distância, pôde sentir o magnetismo daqueles olhos negros em sua direção.


               Clara estava passeando de carro quando viu a mulher vendendo as cocadas. Conhecia-a bem, já estivera em sua casa. Ela era viúva e criava sozinha os netos, já que a filha abandonara os pequenos e seguira para longe junto com um namorado.
                    Desejava ajudá-los e esse era um dos motivos de se empenhar tanto naquela campanha.
                Sentou-se e observou as crianças brincando, então seu olhar foi atraı́do por alguém do outro lado da rua. A condessa Mattarazi!
                  Não estava pronta para vê-la tão cedo, ainda sentia os efeitos da noite anterior em seu corpo. Ainda sentia o cheiro dela em sua pele.
                  Desviou o olhar quando viu quem estava ao lado de Vitória.
                  Não gostava daquele homem, não o suportava e ainda ficava mais furiosa ao imaginar que eles tinham um caso amoroso.
             Sentiu uma vontade enorme de ir até lá e falar um monte de coisas, mas sabia que não poderia agir assim.
                -- E então, mocinha, vai querer?
                Clara fitou a mulher e percebeu que ela a fitava curiosamente.
                -- Sim, quero. – Disse sem graça.
             -- A condessa é uma bela mulher. – A vendedora dizia enquanto colocava as cocadas em uma sacola. – Meu marido trabalhou para o pai dela durante muito tempo, até que foi demitido por estar velho. – Completou tristemente. – A condessa já era uma mocinha e meu Antônio dizia que ela sofria muito naquele lugar.
              A jovem Duomont recordou do que ela falara sobre o pai e a madrasta. Como alguém poderia agir tão miseravelmente com a própria filha?
               -- Bem, aqui está. – Entregou-lhe a sacola. – Agora preciso ir, pois tenho que preparar o jantar.
                Maria recebeu e lhe entregou uma nota com o triplo do valor dos doces, ela não tinha muito, mas sabia que aquele pouco que tinha seria bem vindo para aquela grande famı́lia que não tinha outra renda.
                 Ela continuou sentada observando alguns jovens se aglomerar, era hora da saı́da da escola, então aquele era o lugar preferido dos adolescentes.
                  Não gostava de ver Alex junto com Vitória, mas que direito tinha de se intrometer naquele assunto?
               Na noite passada não conseguira conciliar o sono, as cenas que vivera nos braços da condessa povoavam sua mente, em alguns momentos chegava a imaginar que aquilo fora um sonho, que nada daquilo ocorrera realmente.
                 Sentiu o rosto queimar ao se lembrar da forma como chegara a agir, nunca pensara que tinha um lado tão passional, atrevido, dominador... Mas quando voltava a fitar a Mattarazi todo aquele desejo poderoso lhe queimava e a ousadia retornava a si.
                     Passou a mão pelos cabelos que estavam soltos.
                     -- Tudo bem, senhorita Duomont?
                     Clara se assustou ao ver o marido da delegada parado a sua frente.
                     -- Posso me sentar? – O advogado indagou.
                     Ela apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
                     Ficaram em silêncio por alguns minutos, até que a jovem pareceu incomodada.
                     -- O que deseja? -- Ela questionou desconfiada. 
                   -- Bem... – Pigarreou. – A Valentina me contou o que aconteceu. 
                      A garota se levantou, não gostou das palavras que ouviu.
                  -- Bem, eu não acho que isso seja da sua conta ou da conta da sua mulher, então eu me nego a conversar sobre isso com o senhor. -- falou com o rosto corado.
                      Miguel também se levantou.
                    -- Não quero que me leve a mal. – Tocou-lhe o ombro. – Apenas não desejo que você se machuque, não temos nenhum tipo de intimidade ou amizade, mas eu sei que você é uma pessoa maravilhosa e não merece sofrer.
                      Maria Clara o encarou por alguns segundos e percebeu que ele estava sendo sincero.
                      -- Obrigada por sua tocante preocupação! – Disse simplesmente se desvencilhando do toque.
                      O advogado a observou se afastar e depois caminhou até onde estava a condessa.
                     Não gostou de vê-la com Alex, não achava que ele fosse uma pessoa boa, mas sabia que não poderia ir contra a vontade de Vitória.
                     -- Boa tarde! – Cumprimentou aos dois e se sentou sem esperar pelo convite.
                  -- Bem, eu me despeço. – O jornalista se levantou. – Nos vemos depois. – Disse ignorando Miguel.
                   A condessa continuou a tomar o sorvete sem falar uma única palavra. Tinha visto quando o advogado falara com a neta de Frederico e sentiu vontade de ir até eles, na verdade, desejara ir atrás de Maria Clara. A vontade de tê-la por perto estava ficando incontrolável.
                 -- Bem, eu já estou esperando pelo sermão. – A mulher disse por fim. – Comece o discurso. – Encarou-o sarcástica.
                     -- Eu só acho que a Maria Clara não é sua inimiga.
                      Vitória o fitou por alguns segundos até que desviou o olhar.
                     -- Eu a odeio!
                -- Por quê? O que ela fez para ti? – Observou o arranhão em sua face. – Pensou que a garota não tinha garras foi?
                     A ruiva não respondeu, apenas se levantou e seguiu até o carro. Não desejava falar sobre aquele assunto, como poderia admitir que odiava Maria Clara Duomont porque seu corpo reagia a ela, porque desejava tê-la para si, porque estava totalmente apaixonada por aquela mulher...
                Deu partida no veı́culo e seguiu a caminho da fazenda. Sabia o que precisava fazer e naquele mesmo dia o faria. Iria viajar, há dias não viajava para a Itália para cuidar dos próprios negócios e era isso que faria. Necessita de se afastar, precisava retomar o controle de sua vida, de suas emoções... Nunca passara por algo assim, em nenhum momento de sua vida se sentira daquele jeito e isso era totalmente assustador, era como se fosse um animal selvagem sendo invadido... Violada...

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