Dolo Ferox -- Capítulo 8



                Leonardo chegou ao apartamento no início da noite.
        Natasha estava sentada na enorme mesa, jantava silenciosamente. Aquilo não era algo incomum. 
               Em todos aqueles anos era uma cena recorrente, mesmo quando Verônica aparecera naquela história, as coisas foram cada vez pior. Imaginara na época que começou o relacionamento que a Valerie teria por fim o que realmente sempre desejou, uma família,um lar… Um cantinho para retornar e relaxar depois de um dia exaustivo de trabalho duro, porém tudo caminhara para o desenrolar fatal.
               Continuou mirando-a e revendo todas as fases que acompanhou da bela mulher.
               Era normal vê-la em sua solidão… Quando criança… Quando adolescente… E agora…
           Na mansão da respeitada duquesa a filha desprezada de Elizabeth nem mesmo tinha permissão de se juntar com os empregados. Todos era verdadeiramente proibidos de falarem com a garota. Ignoravam-na como se estivessem a lidar com um ser que apresentava uma doença contagiosa, evitavam-na para não arrumar problema com Isadora.
         Lembrava-se bem de uma cozinheira, uma senhora rechonchuda e cheia de simpatia que trabalhava com os Hanmintons, ela não conseguia agir seguindo as ordens da matriarca, pois se encantou pela pequena ruiva quando as freiras a levaram até lá. Talvez aquela simples serviçal tenha sido o único tipo de relacionamento maternal que Natasha já teve com alguém, até mesmo as irmãs do convento a tratavam com ressalvas, devido às ameaças que recebiam. Quando a duquesa ficou sabendo, demitiu a serviçal e tomou todas as providências para que algo assim não ocorresse mais.
            Nunca em sua vida conseguira entender como um ser humano podia agir de forma tão cruel com um ser que tinha seu sangue. Em todas as vezes que confrontara a aristocrata, jamais viu sequer algum tipo de arrependimento por sua forma de agir. Ela realmente acreditava que estava agindo diante dos preceitos religiosos.
              Voltou a fitá-la e para sua surpresa viu a marca dos dedos em sua face.
             Deu um longo suspiro, percebendo que suas crenças de que a situação entre as duas mulheres tinham amenizado foram infundadas.
          Conversara com o detetive durante horas e recebeu deles várias informações novas e instruções para que a arquiteta seguisse, porém sabia que seria uma tentativa vã fazer algo assim.
           -- O que veio fazer aqui? Vai ficar me olhando parado aí até quando?
        O assessor sentou na cadeira próxima a ela. Com um gesto de cabeça rejeitou a oferta da comida.
            Voltou a analisar a face bonita e com pesar indagou:
           -- Apanhou de novo?
           Natasha mirou o prato demoradamente. Parecia mais interessada no alimento que em responder aquele questionamento. Moveu-se inquieta na cadeira. A última coisa que desejava naquela noite era falar sobre a trabalhadora de circo.
       -- Não tenho culpa se a amante da minha irmã é uma selvagem mal educada. -- Retrucou, encarando-o. -- Por mim, a jogaria imediatamente nas ruas! -- Bateu com o punho fechado sobre a elegante mesa de jantar. -- Achas que aceitarei esse tipo de comportamento até quando?
          O assessor a observa ainda com mais atenção, parecia surpreso com a explosão e  analisava suas reações. Para quem é sempre pura indiferença, havia muita emoção no discurso que ela proferira. 
           -- O que fez para ela agir assim? Sei que a situação não é muito boa, mas já conversei várias vezes com a garota e sempre me pareceu bastante delicada, mesmo com tudo isso. Ao contrário de como ela age contigo, consigo ver a classe por trás da forma que ela se comporta. Vê-la aqui me faz pensar que sempre  pertenceu a esse ambiente.
             A ruiva desviou o olhar por infinitos segundos.
            -- Diga de uma vez o que veio fazer aqui? -- Indagou com os dentes cerrados.
           A empregada se aproximou e trouxe uma xícara de café para Leonardo. Ele agradeceu e ela se afastou.
            Bebeu um pouco para depois falar.
         -- Vim porque sei que não conseguirá convencer a Valentina da viagem. Rick me pediu para assumir essa parte para te poupar do uso da sua forma cortês. Tenho essa árdua missão e pretendo cumpri-la com sucesso.
            A arquiteta levou o garfo à boca, mastigando lentamente a comida. Não parecia ter pressa.
Agia de forma elegante.
           Tomou um pouco de vinho, bebericando devagar.
         Por alguns segundos permitiu que seu cérebro focalizasse na imagem da morena que ocupava um dos quarto daquele apartamento.
      Ainda estava vivo em sua mente o encontro que tivera com a trapezista pela manhã. Ainda desejara ir atrás dela e fazê-la continuar de onde tinham parado. O sabor daquela boca colada a sua parecia tão único… Tão blasfemador para seu autocontrole…
           Inspirou e teve a impressão que o cheiro doce da pele macia ainda estava impregnado em si... O que estava acontecendo consigo?
         Por que sentia-se tão atraída pela amante da irmã, mesmo odiando-a por fazer parte daquele plano sujo, mesmo que indiretamente.
           Sentiu o corpo em chamas em recordar o que fizeram mais cedo.
           Meneou a cabeça tentando se livrar daquelas lembranças, enquanto fitava-o.
          -- Não acredito que veio só por este motivo… -- Pegou o guardanapo, limpando a boca. -- Fale!
       Leonardo não queria contar, mas seria uma missão praticamente impossível enganar aquela mulher.
          O lugar estava a meia-luz, mesmo assim era possível ver a expressão da ruiva.
         -- Sua avó está na cidade e ela deixou bem claro que tem certeza de que você não é a Nathália. -- Baixou o tom para falar. -- Falou que quando tiver as provas, te mandará para a prisão… Estava possessa, gritando ameaças...
          A arquiteta pareceu ponderar por longos segundos. Bebeu mais um pouco da bebida.
      -- E qual é a surpresa? -- Olhou para o líquido âmbar. -- Ela só não pode provar… Somos idênticas… Ainda mais quando minha irmã assumiu meu lugar...
          -- Sim… Sim… Mas tem a Valentina… Ela a conhece…
          Natasha franziu o cenho.
          -- Em um dos relatórios que Rick enviou fala sobre isso…
          Ela fez um gesto de assentimento com a cabeça.
       -- Claro que conhece… A minha adorada irmã tinha uma cúmplice perfeita… -- Meneou a cabeça negativamente. -- Se fosse eu a ter morrido naquela explosão, ela teria se saído muito bem… -- Falou pensativa. -- Ainda não entendi o motivo de terem escolhido essa garota para engravidar… Certo que meu herdeiro tornará ambas ricas, mas por que ela?
          Antoniti pareceu ponderar.
         Fazia-se aquela mesma pergunta diariamente e ainda não encontrará uma resposta. Até mesmo pedira ao detetive para ir mais a fundo na investigação sobre a vida da circense, pois acreditava que havia coisas que ainda não estavam totalmente encaixadas naquele enredo.
          -- Não podemos deixar ela se aproximar da Valentina… -- Alertou-a. -- Não entende o risco que correríamos?

             Valentina andava de um lado para o outro no confortável quarto. Sentia a raiva pelo que se passara mais cedo apenas aumentar a cada segundo que passava. Arrependia-se de não ter batido com mais força, de não ter segurado a ruiva pelos cabelos e arrastar por todo aquele brilhante assoalho. Assim a cara de pau seria polida!
                Parou diante penteadeira. Mirou-se demoradamente.
                A face ainda estava corada, os olhos negros ainda brilhavam em revolta.
                Passou a mão pelos cabelos… Sentia os fios deslizarem pelos dedos…
                Cerrou os dentes.
           Sabia que aquela noite não conseguiria dormir. Precisava de um livro para ler e distrair a mente. Leonardo falara que ela podia pegar na biblioteca pessoal da duquesa se assim desejasse. Lembrou-se do livro que encontrara no escritória e esperava de todo coração que não houvesse semelhança quanto ao gênero.
                Irritada, abriu a porta e seguiu pelo corredor em direção à escada.
          Ouviu a voz de Nathália e já pensava em retornar para o quarto quando seu nome fora pronunciado pelo assessor da ruiva. 
                Lentamente seguiu até eles.
                -- Quem não pode se aproximar de mim? -- A voz melodiosa e firme indagou.
              Imaginou que não houvesse ninguém por ali, mas ao ouvir vozes que pensou em ignorar, mas quando seu nome fora pronunciado, não resistiu.
               Engoliu em seco ao ver o olhar da ruiva em sua direção. Sentiu a face corar ao lembrar do que houve entre elas no escritório. Não conseguira apagar da mente aquele momento…
                Cerrou os dentes…
             Não costumava usar calcinha com camisolas e jamais imaginou que um costume tão trivial resultaria em tamanho constrangimento.
             Natasha voltou a bebericar do vinho, enquanto mirava a jovem fitando-a com aqueles olhos acusadores. Observou o roupão de seda prateado com flores na cor preta. Mal chegava nos meio das coxas… Mirou os pés descalços como de costume. Voltou a fitar as pernas… Longas… Atléticas… E um pensamento passou por sua cabeça...
              Não sabia se era o efeito do álcool em seu sangue ou seu longo celibato que a estava fazendo desejar o que tinha por dentro daquele tecido tão antigo…
               Ultimamente seu corpo parecia ter perdido o controle.
               Leonardo olhava para a trapezista e parecia não saber o que dizer.
            -- Exijo que me falem! -- A garota se aproximou mais. -- O que ainda vivem a esconder de mim?
              A ruiva terminou de beber todo o líquido da taça, depois levantou-se.
             -- De onde você veio não te ensinaram que é falta de educação ouvir as conversas alheias? -- Indagou com voz firme. -- Mal educada!
              A morena chegou mais perto, tendo o nariz empinado.
              Fitaram-se… Mediam-se… Fulminavam-se...
           -- E no mundinho de rico que você vive não te ensinaram que não se pode ficar falando de outras pessoas quando essas não se encontram presentes? -- Perguntou levantando a cabeça, encarando a arquiteta com total desdém. -- Talvez devesse retornar as suas aulas de etiqueta, futura duquesa, pois seu comportamento aristocrático está em total decadência. -- Ironizou. 
          Um sorriso preguiçoso brincava nos lábios da Valerie. Ela parecia se divertir diante do discurso cheio de calor.
        Decerto em sua mente estava a pensar como a tola morena reagiria ao saber que não estava diante da lady Hanminton. 
        -- Talvez você possa me dá algumas aulas… -- Caçoou. -- Se quiser no meu escritório tem ótimos livros para isso… ops… Acho que eu fiz papel de professora hoje mais cedo… -- Arqueou a sobrancelha esquerda. -- Aprendeu a lição ou veio aqui para repetir?
           Os olhos negros da morena pareciam querer soltar de órbitas, enquanto as bochechas pareciam duas tomates de tão vermelhas.
          -- Desgraçada! Vagabunda! -- Bradou a garota. -- Não tem modos… É o ser mais cínico que tive o desprazer de conhecer!
             A ruiva fechou os punhos ao lado do corpo.
           Leonardo observava as duas e sentia como a Natasha pela primeira vez era desafiada em sua vida… Mas dessa vez não era Isadora com sua crueldade que fazia… Era uma jovem que mesmo estando em situação inferior, não parecia temer a fria mulher.
         -- Não é necessário que discutam por isso… -- O homem decidiu interferir. -- Mantenha a calma, senhoritas, só se vence um conflito com diálogos...
            Valentina encara a ruiva.
            Observou a roupa elegante que usava.
         Uma blusa branca de botões que tinhas os primeiro abertos. Usava um colete preto que lhe delineava os seios e a cintura.
            Usava uma calça jeans azul marinho que se ajustava as suas curvas. 
          Mirou-lhe os olhos e ao ver a provocação dançar naquela íris, decidiu por encarar o mais velho.
           -- De que estavam falando? E por que falaram meu nome? -- Indagou com as mãos na cintura. -- Exijo saber!
        Antoniti olhou para a Valerie, parecia pedir socorro, mas a arquiteta apenas deu de ombros, enquanto voltava a encher a taça de vinho e bebericar lentamente.
           -- Estávamos falando… -- Leonardo pigarreou. -- Falando…
           Os olhos negros se estreitaram em ameaça.
           -- Fale!
         Leonardo olhava para os lados, parecia buscar em sua mente algo que pudesse falar para aplacar a raiva da trapezista, mas não foi preciso, pois a voz firme da ruiva pôde ser ouvida.
           -- Estávamos falando que não desejo que se encontre com a minha amada avó!
           Valentina voltou a fitá-la.
       Conhecera a duquesa em uma apresentação. Estivera poucos segundos diante da respeitada senhora, mas pouco se falaram.
           -- Por quê? Ela também sabia das suas mentiras? -- Passou a mãos pelos cabelos. -- Óbvio que sabia… Só eu fiz papel de boba.
          -- Acho que você está dramatizando demais essa situação! -- A ruiva disse impaciente. -- Talvez deva apenas aceitar a situação e ser grata por eu desejar ficar ao seu lado…
           -- Preferiria qualquer coisa a você...
          -- Querida… -- Mais uma vez o mais velho começou. -- As coisas não são assim… -- Sentiu a força e a fúria do olhar da trapezista sobre si. -- Já contei o que se passou… A Nathália passou por momentos terríveis… Precisa entender… Ainda está se recuperando do acidente...
        -- Não tenho nada para entender! -- Fuzilou os dois com o olhar mortal. -- A única coisa que desejo é ir embora desse lugar e voltar para a minha vida! -- Saiu pisando duro.
       A ruiva a observou deixar a sala. Acompanhou com o olhar até que a imagem bonita desaparecesse.
            -- Ta aí… Ela foi convencida a ir ao cruzeiro! -- Pegou a garrafa e encheu a taça mais uma vez. -- Fico pensando como a Nathália agia com ela… -- Sentou-se novamente. -- Como era a relação delas? -- Questionou enquanto bebia lentamente. -- Disse-me que não fizeram sexo… Isso é verdade?
              Leonardo ficou corado diante do questionamento.
              Fez um gesto de assentimento com a cabeça.
             -- Mas por qual razão?
         -- Pelo que sei a Valentina queria casar com a sua irmã… Queria que a relação delas fosse diferente…
            Natasha deu de ombros, enquanto bebia todo o conteúdo da taça.
            -- Se você tentasse ser mais agradável… Ela ainda está apaixonada...
         -- Acho que você não percebeu que está falando com a gêmea errada… -- Levantou-se. -- Amanhã embarco nesse cruzeiro e espero que consiga ter boas novidades quando eu retornar. -- Pegou a muleta. -- Boa noite!
             Antoniti nada disse, apenas observou-a seguir para uma das portas laterais.
         Sabia que as coisas ficavam cada vez mais difíceis, ainda mais agora que Isadora estava à espreita…
              Dirigiu um desanimado olhar para a escada, sabendo que ir até lá seria totalmente inútil.


           Valentina passara quase a noite toda em claro e já era madrugada quando conseguiu dormir. Seu escasso sono fora assolado por imagens desconexas, na qual não conseguia entender o que se passava.
          Despertou com batidas na porta. Esperou durante alguns segundos e não demorou para ser surpreendida pela presença da ruiva.
              Não imaginou vê-la novamente tão rápido depois da discussão que tiveram.
              Arrumou o lençol sobre corpo. Observou os olhos verdes inspecioná-la.
             Ela usava apenas um roupão atoalhado preto e nos cabelos uma toalha presa, deveria ter saído do banho.
             -- O que quer? -- Indagou irritada.
           -- Bom dia, senhorita! -- Falou com um sorriso. -- Espero que hoje seja tão perfeito quanto a sua beleza.
             Valentina relanceou os olhos.
             -- Fale logo o que você deseja! -- Exigiu impaciente.
             Natasha tirou a toalha dos cabelos e lentamente secou as pontas dos cabelos.
          Não fora sua escolha está ali, mas Leonardo não pôde falar ontem e Rick convencera a arquiteta a fazê-lo. Havia muita coisa a perder e a descoberta dessa nova pista poderia significar um grande progresso naquela história, bastava apenas que convencesse a circense de viajar consigo.
             Olhando-a, sabia que seria uma tarefa árdua, mas evitaria usar as chantagens, tentaria imitar a irmã.
         Deixou a toalha sobre a penteadeira, aproximando-se lentamente, sentou-se na cama, encarando a jovem.
           -- Por que não tentamos nos entender? -- Estendeu a mão para lhe tocar a face, mas a morena se desvencilhou. -- Por que é tão difícil que entendas que nossa relação é algo importante para mim… -- Cerrou os dentes diante do olhar que a inspecionava. -- Sei que errei em muita coisa, mas isso não significa que deixei de te querer…
            A trapezista exibiu um sorriso cheio de deboche.
            -- Sinto muito, mas esta encenação está péssima!
            A arquiteta mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente.
           -- Você irá nesse cruzeiro comigo de qualquer jeito… A menos que deseje que seu querido Pepi perda o trabalhinho no circo de beira de estrada.
             Valentina a encarou, observava os olhos verdes se encherem de frieza.
            -- Você só consegue as coisas por meio de jogos sujos… É um ser digno de pena, duquesa… Alguém que para ter as coisas precise descer tão baixo é a pior espécie de ser humano…
             Natasha exibiu um sorriso amargo.
          -- Achas que és a primeira a falar da espécie de ser humano que sou? -- Umedeceu o lábio superior com a língua. -- Cresci ouvindo isso… Nem mesmo essas suas frases mexem comigo… Tudo de ruim que falar sobre mim será apenas mais uma! -- Com um suspiro, levantou-se. -- Faça o que eu ordenei e será melhor para nós duas.
              Viu-a seguir até a porta, mas antes que ela se afastasse, falou:
              -- A Nathália que conheci não era assim… Eu não consigo acreditar que em tão pouco tempo houve uma mudança tão radical!
              Natasha nada disse, apenas lhe piscou o olho direito, enquanto deixava os aposentos.
            A circense sentou-se, sentindo-se mais uma vez pressionada a agir de forma que não desejava.
        Passou a mãos nos cabelos, desejando buscar uma forma de sair daquela situação que fora obrigada a entrar.
         Passara toda a noite pensando o que deveria fazer quanto a isso. Negando-se a ir, não havia dúvidas que seria obrigada… Mas e se aceitasse e no navio pedisse ajuda a alguém? Mas como faria algo assim?
            Essa ideia acendia em sua cabeça como uma luz de néon. 
        Desde que chegara naquele lugar estava sendo tratada como uma prisioneira. Não tivera a chance de falar com ninguém, de pedir socorro… Acusaria a ruiva e sumiria de uma vez por todas das vistas daquela mulher.
             -- Certo… Se a duquesa quer ir a um cruzeiro… Nós iremos ao cruzeiro! -- Disse enquanto se levantava.




            Valentina viu o carro estacionar diante da baía. 
            Observou o enorme transatlântico que já estava parado ali. Sentiu o estômago enjoar só em pensar que estaria em alto mar naquele prédio flutuante. Olhou a aglomeração das pessoas ao redor e ficou a imaginar se teria chances de fugir.
         Fitou os seguranças que estavam consigo. Quais chances teria contra aqueles quatro trogloditas?
Começou a massagear as têmporas.
       Não imaginou que iria até ali na companhia daqueles homens. Imaginara que seria a ruiva a seguir com ela, porém até aquele momento não havia nem sinal da prepotência personificada.
          Meneou a cabeça negativamente, enquanto soltava um suspiro alto.
          Como um sentimento poderia mudar tanto em tão pouco tempo?
       Há alguns meses, se Nathália propusesse algo daquele tipo, ela teria amado. Veria como uma viagem romântica… E seria um verdadeiro sonho estar ao lado dela… Vê-la… Admirar sua beleza como sempre gostava de fazer quando estavam juntas… Adorava a forma divertida que ela encarava a vida… As atenções… As formas tão educadas que sempre exibia… Era uma dama em todo sentido da palavra… Havia delicadeza em cada gesto seus, havia aquele sorriso doce… Aquela suavidade na voz e aquele brilho sonhador nos olhos tão verdes…
           Como alguém podia fingir tão bem?
            A voz de um dos seguranças interrompeu seus pensamentos.
            -- Positivo, entraremos agora! -- Ele dizia.
            Viu-o desligar o celular.
            -- Vamos entrar! -- Avisou aos outros, enquanto abria a porta do carro para ela.


            -- Você não é a Nathália! -- Isadora bradava no escritório. 
           Natasha permanecia sentada em sua mesa, enquanto via aquela figura que deveria tê-la amado e cuidado esbravejar.
            Olhava para ela e via como era um ser vazio e mesquinho.
          Quando as freiras a levaram àquela luxuosa casa fora esperançosa que receberia todo o afeto que lhe fora negado, adentrara aqueles enormes portões com o sorriso de saber que agora teria sua família, mas ao fitar o olhar de desprezo da matriarca, percebeu como fora tola toda a sua infância.
             Ouvia os gritos e imaginava em qual momento ela espernearia e se jogaria no chão.
           -- Exijo ver  a Valentina! -- Aproximou-se. -- Contarei a ela que você está usurpando o lugar da minha amada neta… Se ela não já sabe… Seria impossível confundir as duas… -- Falou com expressão de asco. -- Ninguém que conheceu a Nathália poderá confundir as duas… -- Apoiou as mãos na cintura. -- Você sempre será uma aberração… 
             A ruiva girava na cadeira despreocupadamente.
         Tivera muita sorte de ter conseguido tirar a circense daquele lugar antes que ela ouvisse os gritos da duquesa.
         Não se importava com o que ela falava… Ouvira isso durante toda a vida. Estranho seria se falasse o contrário.
        -- Eu sinto muito, vovó, mas a minha amada namoradinha não se encontra… Essa visita de cortesia deverá ficar para outro dia… Podemos até tomar um chá como é tradição.
           A mulher pareceu ainda mais furiosa, batendo as duas mãos contra a madeira da escrivaninha. 
Os olhos denotavam toda a raiva que estava sentindo.
         -- Óbvio que não vai demorar para ela perceber que você é uma fraude… Um cego veria a diferença entre vocês… Nathália é uma pedra preciosa lapidada… Um diamante que fora moldado pelos bons costumes… Exala educação em cada poro… é uma dama… Um verdadeiro membro da família real… -- Apontou-lhe o dedo. -- E você, o que é você? -- Deu um sorriso de escárnio. -- Um demônio… Um monstro de sangue ruim… Achas que todos não sabem como a Verônica ficou assustada como sua forma bárbara de agir? Ela foi pedir ajuda a mim… -- Apontou o indicador para  próprio peito -- Porque tinha se casado com uma devassa… Um ser cruel… Uma pecadora… Uma selvagem…
           Os olhos verdes de Natasha escureceram, enquanto mantinha os braços ao lado do corpo, seus punhos fechavam a ponto de ferir as palmas das mãos com as unhas.
         Aquelas palavras não era novidade. Sabia que a esposa buscava se refugiar junto à duquesa e Nathália,
        -- Quantas vezes ela fez sexo contigo? -- Isadora continuava a debochar. -- Não acredito que chegou a duas vezes… Coitada da garota… Mas isso que dar quando uma dama nascida em berços se envolve com uma descendente…
         -- Chega! -- Natasha se levantou. -- Estou muito ocupada para ouvir essas bobagens… Precisa de um tratamento, vovó, está desnorteada ainda… Como não consegue reconhecer sua neta preferida e amada? -- Ironizou com um suspiro. -- Logo tudo isso vai ser esclarecido e a senhora vai ver que cometeu um grande erro. -- Apontou para a porta. -- Agora se retire, pois tenho algumas coisas para resolver.
           Isadora a fitou com ódio, mas antes de sair, exibiu um sorriso.
           -- Vamos ver até quando sua farsa durará, minha linda netinha.
           A ruiva sorriu, enquanto a via deixar a sala.
        Quando se viu sozinha, esmurrou forte o tampo de madeira. O olhar fixo, o maxilar enrijecido… Os dentes cerrados… Era possível ouvir a respiração pesada…
          Lembrou-se da esposa…
          Sua forma doce e tão frágil…  O medo em seu olhar sempre que se aproximava… O asco que via em seus olhos sempre que tentava lhe fazer um carinho… As acusações que tinha que ouvir diariamente por aqueles lábios tão bonitos...
           Os olhos verdes se encheram de dor e uma lágrima solitária deslizou pela face tão bonita…
           Quando aquela agonia chegaria ao fim?
           A duquesa estava certa…
           Ela era a gêmea amaldiçoada… Nascera sobre a égide da desgraça…
          Começava a acreditar que a avó estava certa quando dizia que sua mãe fora violentada por seu pai… Começava a acreditar que em seu sangue só havia o mal daquela civilização tão antiga e que fora tão cruel…
        Quando conhecera Verônica pensara que tudo mudaria… Pensara que a partir daquele dia poderia ser feliz, afinal, obtivera sucesso em seus negócios e se fizera sozinha, agora bastava ter uma família… Mas na sua noite de núpcias descobrira que havia uma besta escondida dentro de si…

Comentários

  1. Uau!!!! Tô mto curiosa essa história é sensacional ! Te superando em escritora !!!! Tu é phoda!!!! Parabéns! Estou ansiosa pelo Nono capítulo! Beijooo

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    1. Bom dia, meu bem, agora o novo capitulo já está lançado, basta saciar agora sua curiosidade.
      Beijos!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eita que essa selvagem tem o demonio no corpo.....cuide da circense para não se machucar kkkkkkk bjs

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    1. kkkkkkkkkk Bem, não há como não ver isso... Tá na cara que a Valentina terá que tomar cuidado rsrsrs
      Beijão.

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  4. Olá autora!
    A Natasha era para ser um ser muito pior,passou e passa por coisas terríveis na mãos dessa velha imunda.
    Só espero que você autora não tenha piedade com essa desprezível Isadora,que seu final seja horrível e que passe pelas piores coisas antes de ir para o inferno,kkk.
    A Valentia vai se apaixonar pela Natacha e só por ela,sem resíduo de paixão do passado.
    A arquiteta tem que ter o amor da circense puro,só seu, sem lembrar de outra.
    Até o próximo.

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    1. Olá, meu bem, realmente a ruiva passou por coisas horríveis desde que nascera. Isadora se mostra um demônio em toda sua forma, pois a forma como ela agiu com uma criança ainda nos parece a decadência de um ser humano...
      Vamos pensar em algo para a duquesa...
      Beijão grande.

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  5. Ansiosa para que Natasha e Valentina comecem a se entender

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  6. Oi, Geh
    Adorei o capitulo.
    Quero ver a Natasha se dando bem com a Valentina.
    Parabéns, Chuchu.
    Vanvam^^

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