Dolo Ferox -- capítulo 7
Natasha caminhava pelo enorme terreno que inspecionava.
Acordara cedo naquele dia e seguiu até a construtora. Estranhara a forma que os funcionários lhe trataram, foram mais abertos, até gentis e conversadores. Mostravam todas as dependências como se estivesse a fazer um tour.
A irmã também era formada em arquitetura, porém não exercia a profissão. Era diferente, uma lady que Isadora dizia que não podia trabalhar… Não podia macular seu sangue de aristocrata como simples burgueses.
Chutou uma pedrinha com a ponta da bota, enquanto seus pensamentos seguiam para um passado sombrio.
Colocou a mão no bolso sentindo a aliança...
Alguns anos antes…
Natasha se arrumava para o coquetel que seria oferecido a sua homenagem aquela noite.
Um dos seus trabalhos fora mundialmente premiado, tendo que viajar até a Dinamarca para recebê-lo. Não que fizesse questão desse tipo de coisa, mas como sua construtora ganhava visibilidade, havia ações que ela mesma deveria executar.
Usava vestido preto com mangas curtas caídas, deixando a mostra os ombros bonitos e as sardas que enfeitavam o colo alvo. O tecido chegava uma pouco acima do joelho e moldava a seu corpo como uma segunda pele.
Leonardo logo chegaria para acompanhá-la e por isso apressou mais os últimos retoques.
Arrumou o cabelos que estavam soltos, emoldurando o rosto bonito.
Colocou perfume atrás das orelhas, no pescoço e no pulso...
De repente seu olhar fora atraído por algo. Fitou-se por intermináveis segundos, vendo ao fundo, o elegante quarto do hotel de luxo e a bela mulher deitada sobre os lençóis de seda.
A morena jazia no emaranhado de cobertas e seu olhar não desviava do reflexo com olhar reprovador.
-- Vai passar a noite com suas amantes novamente ou devo esperá-la para que durma comigo?
A empresária não desejava começar mais uma infinita discussão com a esposa. Sempre terminariam na estaca zero.
-- Você deveria reconsiderar e ir comigo a homenagem… -- Falou, enquanto virava para ela. -- É a minha esposa e deve ocupar seu lugar ao meu lado.
Verônica se sentou, encostando-se à cabeceira do leito.
-- Ah, sim, tinha esquecido desse pequeno detalhe… Sou casada com a neta renegada da grande duquesa de Hanminton. -- Desdenhou. -- Como pode se sentir tão suprema e cheia de arrogância quando seu pai não passava de estuprador miserável?
Os olhos verdes se estreitaram ameaçadoramente.
-- Não comece… -- Ordenou.
A Valerie tentava ao máximo manter a calma diante das acusações da mulher. Sabia que ela estava doente e buscava forças para não cair em suas provocações.
-- Começar? -- Indagou em um sorriso cheio de ódio. -- Minha família me despreza por sua causa… -- Levantou-se, seguindo até ela. -- Por que nunca disse que não era você a futura duquesa? -- Parou defronte para a ruiva. -- Iludiu-me… Fez-me apaixonar e na nossa noite de núpcias…
Natasha fez um gesto com a mão para que ela se calasse.
-- Não menti, apenas não costumo falar da minha ilustre família…
-- Ah, sim, você é uma Valerie… -- Cuspiu. -- Uma maldita que entrou em minha vida e me fez pensar que nossa relação seria um conto de fadas… -- Tomou-lhe as mãos nas suas. -- A mão de uma lady toda calejada!
A arquiteta mordiscou o lábio inferior, enquanto se desvencilhava do toque, mas seu braço foi puxado rispidamente pela morena.
A ruiva a tomou pelos ombros, pressionando-a fortemente contra a parede.
Sabia que aquela não era a atitude certa, mas ultimamente não estava aguentando mais aquela relação.
-- Não me provoque, pois já aturei suficiente por esses dias! Poderia ter ficado em casa, poderia ter me deixado viajar sozinha, mas sente prazer em me afrontar!
Verônica apenas esboçou um sorriso.
-- É selvagem, uma bárbara como a Isadora diz… -- Fitou-lhe os olhos verdes. -- Como pode ser irmã gêmea da Nathália? Você não tem modos!
O maxilar da ruiva se enrijeceu, enquanto a apertava com mais ímpeto.
-- Eu sou filha de um conde e não deveria nunca ter me envolvido contigo… Os Vallares são mal vistos por sua culpa… Meu pai e meu irmão perderam contratos por sua causa. -- Gritava.
Natasha respirou fundo, enquanto pegava a bolsa e seguia para fora antes que fizesse uma loucura.
Dias atuais...
Fitou o céu tentando se livrar daquelas lembranças que nunca abandonavam...
O que teria acontecido se a esposa não tivesse morrido?
Lembrava-se de que a ideia de ter uma criança partira dela, parecera entusiasmada, desejando construir a família que a empresária nunca teve...
Cerrou os dentes fortemente...
Teria sido realmente sua culpa toda aquela tragédia?
Meneou cabeça voltando a prestar atenção ao terreno que fora comprado por sua companhia…
Agachou lentamente, sentando sobre os calcanhares…Tocou a terra dura...
O sol estava alto já, mas mesmo assim ela fez questão de ir até ali. Estava cansada de ficar presa dentro do escritório, estava cansada de não poder ter a vida de volta, porém enquanto não conseguisse provar que que fora a irmã quem cometera todos os crimes, teria que continuar fingindo ser a Nathália.
Calculava tudo mentalmente, já ponderava como ficaria o prédio que seria levantado. Esperava que tudo se resolvesse o mais rápido possível para que os investimentos fossem liberados.
Rick estacionou o carro a alguns metros e ficou a observar a figura solitária.
Como podia sufocar aquele sentimento que começava a crescer cada vez mais pela arquiteta?
Desde que a resgatara naquela fatídica noite, seus pensamentos pareciam perdidos diante daquele ser tão misterioso, calado e distante… Precisava dobrar seus empenhos para que pudesse ajudá-la a se livrar de todo aquele plano terrível que fora armado.
Como uma família podia ser tão cruel?
Conversara com Leonardo inúmeras vezes e ficara sabendo por ele boa parte da história daquela mulher...
Ficou parado no automóvel apenas a fitando.
Usava calça jeans justa e surrada, botas de cano curto, camiseta branca e jaqueta de couro escarlate.
Os cabelos ruivos estavam soltos… Brilhavam com o sol…
Bateu forte no volante. Precisava parar de se distrair com essas coisas. Com um suspiro, deixou o veículo indo até ela.
Natasha ouviu os passos.
Esperou que o detetive se aproximasse e viu o sorriso simpático que ele sempre lhe presenteava.
-- Como vai? -- O homem indagou assim que se aproximou, estendendo-lhe a mão.
A ruiva não aceitou de imediato. Sempre agia de forma relutante quando se tratava de contato com as pessoas. Sentia-se estranha, desconfiada…
Fitou os olhos que pareciam examinava com cuidado. Por fim, apertou a mão do policial, mas se afastando em seguida.
Rick sorriu, enquanto observava tudo ao redor.
Antoniti quem falara onde a empresária estaria.
-- Imagino que não seja nada fácil não se envolver com as coisas que tanto gosta. -- Fitou-lhe as lentes escuras. -- Mas em breve recuperará tudo isso.
Ela apenas deu de ombros, enquanto o mirava com olhar taciturno.
-- Tem alguma notícia que possa me fazer acreditar nisso? -- Questionou ceticamente. -- Porque eu ainda não vi nada de promissor e cá estou eu fazendo o papel de uma futura duquesa. -- Desdenhou.
-- Estou trabalhando muito para isso… Mas necessito do seu empenho. -- Retirou do bolso algo, entregando-lhe. -- Aqui está os convites para o cruzeiro exclusivo.
Não precisava conhecer muito para saber que a Valerie estava irritada. Leonardo não aceitara comunicá-la sobre aquele novo episódio, sobrando para si a difícil tarefa naquele capítulo da história.
Retirando os óculos, fuzilou-o com o verde do olhar.
Voltou a olhar para os ingressos, parecia ter brasas em suas mãos.
-- Achas mesmo que irei a um cruzeiro idiota? Ainda mais acompanhado daquela garota cheias de vontades?
Há dias não a via.
Tentava a todo custo manter distância da trabalhadora de circo, pois sempre que a encontrava, sentia-se afrontada como nunca aconteceu.
Acostumara-se a manter a frieza, a não permitir que as emoções a dominassem. Nunca fora uma tarefa difícil, mas quando se tratava de Valentina tudo tinha uma conotação diferente.
Rick passou a mão pelos cabelos.
Não podia negar que se sentia bem pela jovem não se interessar pela circense, porém para que tudo desse certo, era necessário esse sacrifício.
-- Você precisa agir como a Nathália e nós sabemos muito bem como ela gostava da vida boa, de esbanjar, mesmo não tendo… Por favor… -- Tomou-lhe as mãos. -- Quanto mais você colaborar, mais rápido tudo isso irá terminar… Nessa viagem poderá encontrar alguém que muito nos interessa… Estou empenhado nas investigações… Mas será de importância enorme que te vejam em uma viagem romântica com a jovem.
A arquiteta pareceu ainda mais aborrecida.
Deu as costas para ele.
Adorava o mar, decerto herdara isso dos seus antepassados, entretanto a ideia de ficar em um navio com aquela menina parecia cada vez menos atrativa.
Respirou fundo, encarando o homem novamente.
-- De quem está falando? Quem estará nesse cruzeiro?
Rick deu um sorriso.
-- A adorada amante da sua irmã!
Valentina estava deitada sobre a cama de forma atravessada. As pernas estavam dobradas, enquanto ela olhava o teto.
Sentia-se entediada, irritada por ter que se manter naquele lugar. Desejava retornar ao circo. Sentia saudades de Pepi, das pessoas, do trapézio…
Fechou os olhos e se imaginou a voar novamente, contrariando a teoria relatividade…
Por que de repente as coisas pareciam ter saído do controle?
Tinha a impressão que sua vida começara a desabar de repente…
-- Você está linda hoje, meu bem!
Aquela fora a primeira frase que Nathália falou da última vez que se viram e ela simplesmente desapareceu.
Recordou o sorriso fácil… Os beijos tão delicados… Passavam horas conversando sobre inúmeros assuntos.
Ela gostava de contar sobre a nobreza da sua família, seus antepassados e como tivera uma infância encantada.
Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, sentindo-se invadida por aquelas lembranças que a fizera tão feliz.
Certa vez fora acordada com uma adorável ligação e seguira para encontrá-la em um restaurante considerado fino para a cidade tão pequeno.
Lembrava-se dos olhares de ambas se cruzarem quando chegara a porta do recinto.
Um elegante garçom foi até ela, acompanhando-a pomposamente até a futura duquesa.
Naquela noite a ruiva usava um vestido branco colado ao corpo bonito. O riso fácil brincava em sua face.
-- Pensei que não viria, minha bela princesa. -- Nathália falou assim que ela sentou.
Valentina estendeu a mão, tocando a dela.
-- Confesso que estava um pouco cansada, tampouco imaginei que estava na cidade…
A ruiva fez um gesto para o garçom e logo uma cesta com um lindo buquê de flores e um enorme urso de pelúcia em meio a bombons fora entregue a circense.
Os olhos negros brilhavam em emoção.
-- Mas o que é isso? -- Indagou fitando-a.
-- Uma prova do meu amor… Uma forma de te dizer que não consigo mais ficar um único dia longe de você… Estou apaixonada, Valentina, perdidamente apaixonada…
A morena sentiu uma forte emoção no peito.
Naquele momento a única coisa que desejava era tomar os lábios daquela mulher maravilhosa para si em um beijo apaixonado.
Olhou ao redor, percebendo que havia muita gente e teve que segurar sua vontade.
-- É o que eu mais desejo é poder estar ao seu lado… Quero-a mais que tudo… Quero-a tanto que chega a doer em meu peito…
Irritada com as lembranças, a trapezista se levantou.
Com passos largos seguiu até a janela e viu como tudo parecia deserto naquele lugar.
Respirou fundo, pois tinha a impressão que estava sufocando…
Sentiu as lágrimas rolarem por sua face… Por que todas aquelas mentiras? Por que fingira um sentimento? Qual o prêmio que ganhara com tudo aquilo? O bebê?
Fora naquela noite que Nathália falara sobre os problemas de saúde e a necessidade de isolar os genes para que não morresse sem ter um herdeiro…
Limpou os olhos com a mão, fazendo-o de forma ríspida.
Bateu forte contra o vidro da janela…
Decidida, seguiu até a porta, abrindo-a e deixando os aposentos.
Estava cansada de ficar presa naquele lugar.
Observava o corredor e viu que havia mais três portas naquele andar. Qual seria o quarto da traidora?
Observava desdenhosamente as paredes, a decoração luxuosa. Sentia nos pés a maciez do carpete…
Seguiu lentamente, desejando não encontrar ninguém por ali.
No topo da escada, observou tudo… O sofá de couro que dormira a primeira vez, o bar elegante com uma banqueta e inúmeras garrafas arrumadas perfeitamente…
Ali era tão deserto… Vazio… Parecia sem vida… Sem entusiasmo...
E se fugisse?
Há muitos dias estava naquele lugar e infelizmente não conseguia ver uma forma de ir embora.
Não costumava deixar os aposentos e sempre se mantinha trancada, abrindo apenas quando sabia que se tratava da empregada.
Leonardo a visitou algumas vezes e lhe levou vários livros e também um notebook para se distrair. Ele se mostrava sempre atencioso e preocupado, diferente de outra pessoa que evitava pensar...
Desceu as escadas rapidamente e seguiu até a porta e para seu desespero, continuava fechada.
Não havia dúvidas que era prisioneira naquela gaiola de luxo.
Fechou os punhos e bateu forte na elegante madeira.
Não desistiria…
Assim que surgisse uma oportunidade iria para longe daquela mulher.
Não sabia para onde,nem como sobreviveria, mas isso não lhe importava mesmo...
Observou o hall e viu a porta lateral, que no seu primeiro dia ali viu a ruiva a tocar piano.
Voltou a observar o local. Não havia ninguém.
Fazia quinze dias que estava no apartamento e a última vez que viu Nathália fora quando ficou debilitada devido a falta de alimentação.
Ainda recordava do atrevimento dela, do olhar cheio de sarcasmo… Da boca que tocara a sua…
Meneou a cabeça, tentando se livrar daquelas sensações confusas…
Onde estaria o marido? Ele sabia daquela história e concordava? Que tipo de homem aceitava algo assim?
Voltou a observar tudo ao redor.
Tinha quase certeza de que ela não estava naquele lugar, pois era sempre o senhor Leonardo que aparecia para saber da sua saúde. Ela nem se importava com a criança que estava a crescer em sua barriga… Então qual era o verdadeiro interesse?
Levou a mão ao ventre…
Dois meses…
Seu bebê já se desenvolvia…
Sim, era seu… Apenas seu…
Sem pensar seguiu para a sala de música Parecia não curiosa, mas desejosa de encontrar respostas para as perguntas que não paravam de martelar em sua cabeça. Fitou pela fresta da porta e quando viu que estava vazia, entrou.
Era um lugar estranho… Observou as persianas fechadas o que deixava o local um pouco sombrio.
Viu a poltrona que Antoniti estava sentado...
Mirou o enorme piano… Ele parecia ainda maior de perto… Arrogante…Até deslocado naquele espaço… Engraçado que combinava muito bem com a dona.
Sua atenção fora tomada por grandes quadros nas paredes. Nada de foto de família, nada que revelasse a realeza… Impessoal ao extremo…
Mirou uma obra… Uma serpente...Batalhas vikings… Conhecia os símbolos...
Aproximou-se ainda mais, curiosa…
Tocou um…Era feito em alto relevo.
Sempre adorou História… Até começou a cursar virtualmente… Mas Nathália a dissuadiu, dizendo que quando casassem não haveria muito tempo para isso.
Assim que saísse dali, retomaria o curso.
Tocou a obra mais uma vez…
Nórdica…
Mitologia Nórdica… Havia insígnias…
Estranho…
Nathália sempre deixara claro em algumas conversas que tiveram, odiar cultura daquele povo antigo.
Por que mentiria sobre algo assim?
Passou vários segundos olhando cada detalhe, examinando como se fosse uma especialista…
Viu a estante de livros e seguiu até eles.
Os volumes também pareciam antigos… Eram grandes, tinham capas de couro gasto…Sentia o cheiro…Gostava de senti-lo...
Pegou um e achou estranho por não estar escrito em nenhuma língua conhecida. Também havia um daqueles símbolos norrenos na capa. Abriu-o, folheando...As folhas parecia o antigo papiro do Egito…
Engoliu em seco ao ver do que se tratava…
Havia imagens sexuais… Mulheres em diversas posições ostentando seus corpos, enquanto outra a tocava das mais variadas formas… Passou para a página seguinte…
Os olhos negros pareciam chocados, enquanto deixava de lado a grande obra.
Sentia a face em chamas.
A ruiva que parecia um anjo era na verdade uma devassa…
Arrumou os cabelos por trás da orelha… Teve a impressão que a mão tremia.
Uma lady coisa nenhuma! -- Desdenhou.
Mais uma vez sua atenção fora chamada pelo piano…
Seguiu até ele…
As teclas pareciam de marfins… Aquele instrumento parecia bastante antigo…
Tocou-o…
Ouviu o som.
Natasha tinha terminado mais uma longa sessão de exercícios.
Suas pernas tremiam quando travou o Leg press. Permaneceu deitada, enquanto sentia a respiração voltar ao normal aos poucos. Tinha os cabelos colados à nuca de tanto suor…
Fitou o teto.
Falara com Helena na noite anterior e lhe contara que teria que se ausentar por uma semana. Não desejava, porém pelo que via, não havia uma forma de escapar daquilo.
Deixaria a tarefa para avisar a circense com Leonardo. Não desejava de forma alguma um novo confronto. Sentia-se em paz por não a ver e seus caminhos não se cruzarem.
Observou a pasta que jazia sobre o assoalho ao lado da máquina. Pegou-a e novamente leu o relatório que Rick lhe entregara sobre a relação da irmã com a trapezista. Lia e nada daquilo parecia fazer sentido… Parecia um script que deveria seguir na forma de lidar com a amante.
Delicada… Atenciosa… Gentil… Engraçada…
Relanceou os olhos, jogando longe as folhas.
Lentamente, levantou-se. Esticou o corpo em uma espécie de alongamento.
Suas dores pareciam menores naquela manhã… Mas ainda lhe incomodavam bastante. Ter permanecido de repouso fora de grande ajuda.
Mirou-se no espelho.
Estava totalmente suada.
O short curto e preto colava às suas pernas longas… O pequeno top deixava a mostra a barriga lisa… Os seios pareciam maiores… Algumas sardas lhe enfeitava o busto…
Fitou a pele rosada pele esforço.
Deveria tomar um banho, mas lembrou que precisava enviar as plantas do terreno para Leonardo, deveria ter feito na noite anterior, mas acabou chegando tão irritada devido à história do cruzeiro que acabou não fazendo…
Depois banharia, melhor resolver logo aquele problema.
Lentamente seguiu até o seu lugar preferido naquele enorme apartamento.
Estranhou a porta está meio aberta.
A empregada só costumava ir ali uma vez na semana para limpar e sempre mantinha tudo fechado.
Mirou e viu a intrusa parada diante do piano, fitando-o como se nunca tivesse visto um.
Sua primeira reação fora ir até lá e expulsá-la. Odiava quem se aproximasse dele, mas algo a deteve.
Fitou-a dos pés até a cabeça.
Estava descalça…
Usava um roupão de seda rosa… Que não chegava nem aos joelhos...
Os cabelos que chegavam a altura dos ombros, estavam soltos e úmidos…
Inspirou e sentiu o cheiro de banho… Sabonete… Loção…
Há dias não a via… Era estranho ter uma mulher ali… Ainda mais tão bonita…
Por que Nathália não a levou para a cama? Qual o problema de transar com a trapezista? Jamais aceitaria aquele tipo de relação… Na verdade, não haveria uma, apenas o sexo para ajudar a conter seus demônios internos.
Umedeceu os lábios, sentiam-nos secos…
Continuou ali parada, vendo-a… Apenas a via...Era estranho vê-la ali depois de dias… Chegou mesmo a esquecer da presença da jovem em sua casa. Estivera tão distraída com os problemas que não recordava que a trapezista vivia em seu apartamento.
Ouviu o som que ela produzia aleatoriamente…
Esboçou um sorriso…
Teve a impressão que estava diante de uma criança xereta...
Havia um enorme espelho que ficava na parede defronte ao instrumento musical… Ele era adornado com pequenas pedras prateadas...
Mirou a cabeça inclinada enquanto uma mecha de cabelo saia sobre sua testa… Parecia concentrada em sua curiosidade... Os lábios rosados estavam entreabertos… Pareciam tão molhados...
Natasha se aproximou lentamente, ficando a alguns centímetros dela… Praticamente colada ao seu dorso.
Observou-a com mais atenção pelo reflexo...
O roupão frouxo mostrava as alças da camisola, também podia ver a pele bronzeada do busto… Só naquele momento percebeu que ela usava um cordão dourado onde estava pendurado um coração...
Valentina sentiu a força do olhar penetrante e lentamente seus olhos fitaram o cristal…
Como não a ouviu entrar?
Continuou parada… Observando o misterioso e tão verde olhar…
Engoliu em seco, enquanto sentia a respiração ficar mais acelerada… Era como se nunca a tivesse visto antes…
Mirou os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo, enquanto fios se soltavam da amarra sobre sua tez.
Mesmo diante da escassez da luz, era possível vê-la muito bem...
Sentiu o cheiro de suor… O cheiro dela mesclado… Não era um aroma ruim, mas parecia selvagem… Tão primitivo que a amedrontava...
Prendeu a respiração.
-- Gostas de piano, senhorita? -- Natasha sussurrou bem perto da sua orelha. -- Sabe tocar? -- Dizia sem lhe abandonar a face, pondo a mão sobre a dela nas teclas.
A trapezista se virou bruscamente, mas estavam tão próximas que foi impossível os corpos não se roçarem.
A circense teve a impressão que uma descarga elétrica passava por todo sua pele…
Tentou se afastar, mas a ruiva apoiou ambos os braços na lateral do instrumento, prendendo-a ali.
Fitava-a os olhos negros.
Viu o sinal que ela tinha na parte esquerda da testa, próximo o couro cabeludo. Parecia uma estrela…
Seu olhar caiu sobre os lábios carnudos…
Recordou de como eram macios…
Aproximou-se mais.
-- Afaste-se! -- A morena mandou.
Valentina sentiu as pernas se tocarem e teve um arrepio na nuca. A panturrilha da ruiva tocava a sua… As coxas nuas da arquiteta profanavam a seda do seu roupão.
Aquilo era estranho…
Óbvio que na época que namorava sentia desejo pela ruiva, mas nada se comparava àquela raiva mesclada a uma vontade inexplicável de feri-la, enquanto sentia prazer…
Sacudiu a cabeça para se livrar dos pensamentos assustadores.
-- Faz dias que não nos vemos… Deveria demonstrar pelo menos um pouco de saudades… -- Exibiu um sorriso cheio de sarcasmo. -- Não sentiu minha falta? -- Com o polegar acariciou o lábio superior. -- Não desejou a minha visita em seu quarto? -- Arqueou a sobrancelha esquerda em zombaria. -- As noites estão frias… Eu adoraria esquentá-la por alguns minutos...
A trapezista se desvencilhou do toque sob o riso debochado e isso a deixou furiosa.
-- Acredite em mim… Nem lembrava da sua existência… -- Disse por entre os dentes, tentando se afastar novamente, mas foi uma ação fracassada. -- Deixe-me passar! -- Exigiu. -- Não suporto a sua presença, odeio a sua proximidade!
A arquiteta não pareceu se importar com irritação da jovem, permanecendo no mesmo lugar e brincando com as teclas do piano, produzindo um som lento.
Não entendia a razão, mas gostava de afrontar a amantezinha da irmã.Ela tinha algo que lhe irritava e ao mesmo tempo lhe causava agonia…Sabia que provocá-la era uma faca de dois gumes…
Uniu ainda mais os corpos e isso foi suficiente para sentir uma pontada no abdome.
Desejo…
Precisava de sexo… Sexo selvagem…
Mexeu a coxa em meio às pernas dela, enquanto mirava o rosto corado e surpreso.
Seria ela tão inocente a ponto de não saber o que estava a fazer?
Poderia tirar aquela roupa que ela usava rapidamente e acabaria com aquela agonia… Tinha certeza de que ao final, a moça adoraria as sensações...
-- Iremos a um cruzeiro… -- Falou, mirando-a. -- Vai ser bom para ti e para mim também… Alguns dias… Vai ser como uma lua de mel… Muito mel...
Valentina ouviu o som baixo e hipnotizante. Tentou se afastar mais, porém não havia mais espaço, apenas ali, colada a ela, sentindo-a roçar em si como uma gata no cio.
-- Não irei a lugar nenhum com você… -- Falou mais alto. -- Espero que o barco afunde contigo dentro!
A arquiteta não parecia se divertir com a falta de controle da garota.
A trapezista ouvia o som que ela produzia... Viu os olhos verdes se fecharem… Envolvida na melodia… Conhecia-a muito bem… Já ouvira no primeiro dia que esteve ali...
Aproveitou que ela estava tão envolvida para mirá-la melhor…
Por que tinha a impressão que estava diante de outra pessoa? Aquilo martelava em sua cabeça o tempo todo.
Viu as sardas…
Os lábios estava entreabertos e dava para ver os dentes alvos…
O nariz forte e arrogante…
A pele branca parecia uma porcelana… Mas naquele momento estava corada e suada.
O que estaria fazendo?
Pelas minúsculas roupas, decerto estava a malhar. Então errara quando a imaginara viajando, esteve lá o tempo todo.
Observou o sinal pequeno na face… Era mesmo a Nathália? Observava com mais atenção, desejando encontrar algo que mostrasse se tratar de outra pessoa, entretanto não havia nada que a diferenciasse… Apenas a personalidade demoníaca.
Engoliu em seco…
A melodia que ela produzia parecia o canto das sereias…
Sentiu o cheiro de suor… Aquela era a primeira vez que a sentia assim…
Observou o colo sensual…
-- Será apenas uma semana… -- Natasha dia com voz baixa. -- Amanhã partimos… -- Encarou-a, enquanto cessava a música. -- Não desejo obrigá-la a fazer… Porém se continuar a se negar, farei…
Valentina a empurrou bruscamente, livrando-se do contato e mantendo uma distância segura.
Natasha apenas esboçou um sorriso…
A circense observou o corpo quase todo exposto naqueles trajes. Parecia um demônio pronto para seduzir e destruir.
-- Então vai ter que usar de chantagem novamente… Pois se não for assim, não irei!
Natasha apoio o quadril no piano, enquanto colocava a perna sobre o banco e começava a massagear as coxas.
O olhar da morena fora atraído pelo ato.
Mais uma vez observou a cicatriz…
A voz baixa e arrastada lhe chamou a atenção.
-- Eu tenho a impressão que você gosta de ser forçada… -- Olhava-a, enquanto fazia movimentos circulares na pele. -- Se for assim, avise, que podemos brincar bastante… -- Mordiscou o lábio inferior. -- Gosto desses joguinhos, mas na hora do sexo… Imagina… Você bravinha, dizendo que não me quer e seu corpo se entregando ao meu toque… Engolindo meus dedos e a minha língua...
Valentina sentiu a face queimar porque sabia do que ela estava falando.
Recordou das imagens que viu no enorme livro, da forma que a amante era abusada...
-- Que tipo de pessoa você é? -- Indagou com as mãos nos quadris. -- Quando a conheci tinha modos gentis, talvez fosse fingimento sim, mas pelo menos agia como um ser civilizado… Agora parece um animal selvagem… Perdeu seu verniz? -- Provocou-a. -- Aconselho-a a comprar mais, pois uma futura duquesa que estudou nas melhores escolas deveria ter aprendido pelo menos ter educação.
O maxilar da ruiva enrijeceu.
-- Acostume-se, pois é assim que sou, essa é a mulher pela qual se apaixonou, não existe mais outra… -- Falou bruscamente.
-- Pois eu a preferia um milhão de vezes a que conheci antes… -- Seguiu até a porta.
Antes que ela deixasse o escritório, a ruiva segurou-a, tomando-a pelo braço, pressionando-a contra a madeira.
Valentina tentou se livrar, mas tinha as mãos presas sobre a cabeça e o corpo era pressionado pela da futura duquesa.
-- O que quer? Galanteios? Quer que eu contrate músicos para cantar a sua janela ou deseja que eu mesma faça com meu piano? -- Indagava com um sorriso perigoso.
-- Olhando para ti, vejo que isso seria a coisa mais impossível de acontecer… Não tem modos, duquesa… É um animal indomesticável!
Natasha não pareceu se importar com o que fora dito.
Fitou a boca entreaberta, ouvia a respiração acelerada... Depois sua atenção fora chamada pelo livro jogado sobre a poltrona.
Tinha uma verdadeira coleção de obras dos povos das terras altas, fora a única herança que seu pai lhe deixara.
Aquele exemplar era um dos seus favoritos…
Voltou a encarar a morena.
A trapezista sentiu o rosto corar diante do olhar que recebia.
-- Vejo que gostas de ler, bela dama… -- Ironizava -- seus gostos são interessantes… -- Aproximou a boca ainda mais próxima da dela. -- Diga-me… Qual a posição que você mais gostou? Ali não há nada tradicional…Não há nada de gentileza…
A garota cerrou os dentes, enquanto sentia a garganta seca.
-- Jamais veria algo tão sujo se não por acidente! -- Tentou mais uma vez empurrá-la, mas foi em vão. -- Solte-me! Deixe-me sair daqui!
A ruiva colou os lábios na face dela, seguindo até a orelha.
-- Na página oitenta e oito há uma posição que eu adoro…Não acredito que já tenha sido usada por outras pessoas... Vou explicar para ti…
O sussurro baixo quase inaudível era usado numa explanação cheia de detalhes… Dizia com riqueza a forma que os corpos das amantes se encaixavam… Murmurava com palavras excitantes… Dizendo que desejava fazê-la consigo… Instrucionando-a como um manual perigoso...
Os olhos negros de Valentina pareciam ter aumentado de tamanho, enquanto o rosto parecia ter sido pintado de tinta escarlate.
Sentiu-se maculada, invadida e de repente era como se conseguisse ver tudo que era tão perfeitamente descrito…Via com nitidez a ruiva fazendo aquelas coisas que dizia e era como se estivesse com ela… Sendo tocada…
Os olhos verdes a miraram, fizeram com tanta intensidade que lhe tirava o fôlego.
-- E então? Deseja experimentar? Sou uma boa professora com teorias?
Valentina não respondeu de imediato, tinha a impressão que sua voz não conseguia sair. Abriu a boca, fechando-a em seguida, depois fê-lo novamente.
-- Você não passa de uma… Uma… Uma vagabunda… Uma desavergonhada...
A arquiteta colou os lábios aos dela, impedindo-a de continuar com os impropérios.
A circense foi pega de surpresa, tendo a boca esmagada… Tentou fechá-la, mas o modo que a outra se movia contra si parecia uma forma de anestesia… Sentiu a língua buscando a sua e buscou forças para resistir, porém sentia-se tão fraca como quando desmaiou por falta de alimentação.
Mantinha os olhos abertos, como se assim evitasse ser tragada por aquela atmosfera periculosa.
Natasha lhe soltou os braços, enquanto tomava a face rosada em suas mãos, segurando-a, trazendo-a para si…Sentia a resistência… Mas sabia que ela cederia…
Não entendia o motivo de fazer algo assim, mas como já pensara inúmeras vezes, sentia-se atraída pela amante da irmã, desejosa de fazê-la cair em seus braços, de usá-la de todas as formas inimagináveis.
Depois de muitas tentativa infrutíferas, capturou a língua entre os dentes… Chupou-a com uma ânsia incontrolável…
Viu os olhos negros se fecharem, imitou-a, querendo senti-la mais profundamente.
Ouviu-a produzir um som abafado… Um grunhido que a deixou mais excitada…
Sugou-a ainda mais forte… Puxando-a, obrigando-a a se entregar.
Sentia as mãos da morena em sua cintura. Colocou a coxa entre as pernas dela… Roçando-a e sentiu-se mais excitada ao perceber que a circense não usava calcinha por baixo da camisola… Sentia os pelos lhe roçando… Adorou a sensação... Forçou mais...
Esfregou mais forte e a sentiu molhada… Quente...
Desejou usar os dedos para verificar se não estava enganada...
Ouvia a respiração de ambas... Aceleradas...
Imaginou como seria delicioso se tirasse o short para senti-la aina mais intimamente...
A amante da sua irmã a estava enlouquecendo pela ausência de roupa íntima...
Gemeu contra a boca dela...
Valentina abriu os olhos e pareceu recordar tudo o que passara.
Empurrou a ruiva, desferindo um tapa em sua face.
Sem que a arquiteta pudesse retrucar, amorena saiu em disparada do recinto.
Simplesmente perfeito cada capítulo
ResponderExcluirObrigada, meu bem, grata e feliz em saber disso.
ExcluirUm beijo!
Cada vez mais me encanto com sua escrita, esse seu jeito de tramar e domar uma boa fera, Geh? Saudades linda!
ResponderExcluirOlá, meu bem, eu que me sinto muito honrada por receber esses elogios. Eu me sinto sortuda por isso.
ExcluirUm grande beijo e boa noite.
Oi Geh.
ResponderExcluirEita que loucura essa menina sem calcinha,deixou a Natacha louca,mas quem não ficaria?
Essa viagem vai ser boa para ambas,tomara que elas se peguem muito.
O detetive apaixonada pela nossa protagonista,isso ainda vai gerar ciúmes na Valentina.
Capítulo maravilhoso.
Beijos.
Val Castro
Ah, sim, a Natasha foi pega de surpresa com algo tão inusitado... Não deve ter sido fácil para ela lidar com uma situação tão excitante.
ExcluirAinda teremos muitas emoções...
Beijão grande e boa noite.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ assim que se acaba um capítulo? Ansiosa pela primeira vez dessas duas, porém, mais ansiosa ainda pela maneira que irá descreve-la, pois para mim, não existirá nada mais excitante e apaixonente depois desses capítulos de tirar o fôlego. No mais, só elogios 👏👏👏👏 ...sdd de ti. Um abraço
ResponderExcluirOlá, minha querida, como vai ?
ExcluirGrande prazer em vê-la por aqui e honrada como sempre...
Agora não temos uma índia selvagem, mas a braveza parece seguir pelo caminho kkkkkkk
Um grande abraços e uma boa noite.
Oi, Chuchu
ResponderExcluirA Natasha está levando muitos tapas. rsrs
Essa história está começando a esquentar rsrs
Adorei o capítulo!
Parabéns!
Vanvan^^