A condessa bastarda -- Capítulo 4


             Miguel estava saindo do quarto do filho quando a esposa chegou. Passava das dez horas.
             -- Boa noite, amor! – Ela o cumprimentou com um beijo rápido nos lábios.
             -- Nossa, pensei que fosse dormir na delegacia.
             A mulher respirou fundo e sentou na poltrona. O advogado se aproximou e iniciou uma massagem.
             -- Frederico Duomont apareceu por lá, quer que eu prenda a condessa novamente.
             -- Mas, por quê?
             -- Ele disse que ela rasgou o pneu do carro da neta. Parece que a garota se perdeu e acabou entrando por engano nas terras da Mattarazi.
             -- Ele oficializou a denúncia? – Miguel sentou ao seu lado.
             -- Não, pois sabe que Maria Clara estava em propriedade privada e todos sabemos como Vitória costuma receber invasores. – Valentina virou-se para o esposo. – Fale com a sua cliente, diga para ela manter distância dessa famı́lia.
             -- A Vitória está sendo perseguida, ela não fez nada do que a acusam.
             -- Miguel, eu sei que você era amigo do irmão dela, mas seja realista. A condessa age impulsivamente e não mede as consequências. É alguém difı́cil de lidar. Arrogante, orgulhosa e agora estou a pensar se ela não é mesmo a culpada de tudo que essas pessoas a acusam.
             -- Ela não matou a famı́lia e nem o marido, eu a conheço bem, sei do amor que ela tinha por Vitor. Sei como ela sofreu e como ainda sofre.
             --  Sofre?  –  Indagou  incrédula.  –  Aquela  mulher  é   um  poço  de  frieza  e  sarcasmo.  Acho  impossıv́ el  ela  ter  algum sentimento dentro do coração, na verdade, eu duvido que ela tenha um. – Levantou-se. – Vou banhar para deitar.
            O advogado assentiu e ficou sentado, pensando.
            Tinha certeza da inocência da cliente e mesmo se assim não o fosse jamais a abandonaria. Nunca faria isso.


            Vitória acordou bem cedinho. Vestiu-se e saiu para se exercitar. Gostava de cuidar do corpo.
Não dormira muito bem. Mais uma vez sonhara com o irmão. Por que não estava junto com ele naquele dia?
            Recordou que eles estavam indo para a cidade e Vitor pedira que ela ficasse cuidando de tudo. Estavam indo fechar a venda de uma parte das terras, pois a situação financeira estava péssima...
Sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos.


           Maria Clara iniciou as sessões de fisioterapia naquele dia. O que mais desejava era não precisar mais das muletas para se locomover.
           Recebeu uma cesta de café da manhã do namorado, acompanhado de um buquê de rosas brancas. Clarice apareceu entusiasmadı́ssima, parecia que o presente era para ela.
          -- Assim que terminar ligue para ele e agradeça. – Falou suspirando. – Marcos é um verdadeiro gentleman, vai ser um ótimo marido para você.
          A jovem sorriu. Sim, sabia que não tinha no mundo alguém tão perfeito para si do que aquele belo rapaz.
          Fora agraciada em conhecê-lo. Ele era maravilhoso, paciente e cuidadoso. Era totalmente apaixonada pelo garboso cavalheiro.
          -- O farei, mamãe, nem precisa dizer.


         Como esperado, os membros do partido relutaram em aceitar a condessa como candidata a prefeita na pré-convenção.
          Mas parece terem pensado melhor ao vê-la entrar no local onde estava acontecendo o evento.
          O vestido preto, solto nos quadris, que chegava um pouco abaixo dos joelhos, davam-na uma elegância e ao mesmo tempo sensualidade. As alças finas da peça destacavam os ombros magros e o perfeito colo. Os cabelos estavam soltos, brilhantes, afogueados, usava uma maquilagem discreta, leve, mas que realçavam ainda mais os olhos cor de esmeralda e os lábios cheios, provocantes.
          Todos a olhavam e decerto a pergunta que passava por suas cabeças era: Quem não cairia de desejo por aquela mulher? Quem resistiria àquela mistura de fogo e gelo?
          Algumas damas presentes não pareceram muito felizes com a presença poderosa, com certeza, morriam de inveja. Outras, mesmo em segredo, admiravam-na demasiadamente. Mas Vitória não se iludia, tampouco se importava com a opinião alheia.
          Conversou com algumas pessoas, sorrindo, porém não se esforçava para perder aquele ar de superioridade e sarcasmo profundo.
          -- Como pode existir em um mundo tão imperfeito, uma mulher tão linda como você?
          A condessa estava de pé, prestava atenção em uma banda que se apresentava. Então, ouviu um sussurro bem junto à orelha e sentiu mãos lhe enlaçar a cintura.
          O ambiente estava mergulhado na penumbra, mas havia um show de luzes coloridas.
          -- Uns são comparados aos deuses... – A jovem falou sem se mover. – Outros são como você. 
          O homem gargalhou.
          -- Eu sou completamente fascinado por ti. Eu, um mero mortal, apaixonado pela representação terrestre de Afrodite. 
           Vitória virou-se, fitando-o com aquele sorriso que brincava no canto da boca.
           -- Na verdade, eu sou um misto de Palas Atena e Ártemis. – Entregou-lhe o copo e afastou-se. Alex tomou o resto de bebida que estava na taça.
           -- Um dia descobrirei os seus segredos, condessa.


           A noite transcorria com boa música, excelente comida e bebida. Ao final, Vitória Mattarazi era escolhida como pré candidata a vaga de futura gestora do municı́pio. A população que estava presente pareceu surpresa com a indicação, mas a popularidade negativa do atual prefeito colaborou para uma boa aceitação do poderoso nome.


           No dia seguinte, a pequena cidade fora assolada com a notı́cia.

            Frederico Duomont estava possesso. Rapidamente convocou Marcelo, Marcos, Maria Clara e Felipe. O desjejum fora substituı́do pela esbravejamento do patriarca.
            -- Maldita... Um milhão de vezes maldita.
            -- Acalme-se, vovô, ou acabará tendo uma sı́ncope. – A jovem aparentava serenidade. – Não há motivos para ficar assim.
            Sabı́amos que o adversário buscava um nome forte para a chapa, então não temos que superestimar o fato de ser o dela.
            Todos os olhares se viraram para ela. Surpresos.
            Marcos decidiu intervir ao ver ao ver o velho polı́tico ficar cada vez mais vermelho.
            -- Clara tem razão! Sem falar que ainda não nada está oficialmente decidido. O pleito ainda está distante e pode ser que o partido perceba que a escolha feita não é uma das melhores. E não devemos esquecer que ela não é nenhum pouco bem quista pelos cidadãos de bem.

            -- Ok! – O polı́tico parecia mais calmo. – Mesmo assim não quero surpresas. Tentaremos fazer um trabalho discreto para angariar votos, vamos buscar apoio dos comerciantes e fazendeiros da região.
            Os presentes assentiram, sabia que não poderiam questionar uma ordem de Frederico.
            Maria Clara respirou fundo, pressentia que muita coisa estaria por vir e teria que ter ainda mais paciência. Por que a tal condessa não podia simplesmente sumir da vida de todos? Passara aqueles anos todos ouvindo falar dela. Agora, entendia porque preferira se mantiver longe. Não conseguia conviver naquele ambiente cheio de rancor e de ódio, não desejava mergulhar naquela atmosfera, porém agora temia não conseguir continuar imune a toda aquela raiva.


             Os dias que se seguiram foram tranquilos. O caminho das duas mulheres não voltou a se cruzar, até uma bela manhã ensolarada de domingo.

              Havia um clube, um pouco afastado da cidade. Um balneário frequentado pela alta sociedade local e por muitos turistas. O ambiente era pomposo. Havia um campo de golfe, uma quadra de vôlei, piscinas, tudo cercado por uma reserva de mata atlântica. O' timo lugar para aproveitar os finais de semana. Vários restaurantes serviam comidas tı́picas e também culinária estrangeira, detalhe que agradava a todos que frequentava o lugar. Havia mú sica ao vivo para embalar os seletivos clientes.
             -- Que bom que aceitou o meu convite. – Marcos servia um suco para a amada. Ambos estavam deitados em uma espreguiçadeira na beira da piscina.
             Maria Clara acabara aceitando o convite do namorado e ambos estavam aproveitando um momento a dois. A bela Duomont estava avançando na recuperação, agora só necessitava de uma muleta canadense e de acordo com o fisioterapeuta, em breve ela estaria livre desta também.
             -- Aqui mudou muito. Quando vinha de férias sempre meus pais me traziam aqui.
             -- Fizeram muitas melhorias, ainda mais depois que um empresário italiano se interessou pelo lugar...
             O namorado continuava a falar entusiasmado, mas a atenção da herdeira de Frederico estava voltada para uma figura que acabara de chegar.

              A condessa caminhava ainda mais altiva. Estava acompanha de um homem muito bonito, moreno e de corpo atlético. Deveria ter uns trinta anos. Mas ele não chegava perto da beleza de Vitória. Ela usava um biquı́ni na cor branca e uma saı́da de praia com abertura frontal, chegando até as coxas torneadas. Os cabelos vermelhos estavam presos num coque frouxo.
             Observou-a tocar no ombro do acompanhante e ele parecia enfeitiçado. Será que sabia que ela era acusada de ser uma viúva negra?
             A condessa retirou os óculos escuros e dirigiu o olhar em sua direção. Arqueou a sobrancelha, exibiu os dentes branquı́ssimos em um sádico sorriso e depois fez um gesto mostrando que manteria distância.
             Clara deu de ombros e voltou à atenção para Marcos.
              -- Não acredito que essa mulher está aqui. – O rapaz parecia aborrecido ao vê-la.
              -- Vamos ignorá-la, está bem? – Tocou-lhe a face, dando-lhe um beijo rápido nos lábios. – Não desejo que nada estrague o nosso dia.
              O jovem sorriu e tomou-lhe os lábios novamente, aprofundando o contato.


              Vitória Mattarazi esteve viajando durante alguns dias. Estivera divulgando sua cachaça. A bebida foi bem aceita e muito elogiada. Retornara na noite anterior e trouxera consigo um empresário mexicano que parecia não só interessado na sua destilada, mas principalmente na sua dona.
               Sentou em uma das inúmeras mesas, apreciando a companhia do galante rapaz, chamando Juan.
               -- Estou encantado com sua cidade, sua fazenda e isso aqui é semelhante a um paraı́so. – Tomou-lhe as mãos nas suas. – Mas você é o melhor de tudo aqui.
               A condessa sorriu, mas seus olhos não pareciam presos no conquistador latino, fitou a sobrinha de Helena e sentiu asco ao vê-la toda derretida com o namoradinho.
               Idiota!
               Não suporta ver aquela garota. Achava-a ainda pior do que a tia. Dissimulada que exibia carinha de princesa de contos de fadas. Porém, de áurea encantada não havia nada, bastava lembrar que ela a acusara de ter cortado a sela do cavalo. Decerto, sabia que iria perder e se jogara propositalmente e depois lhe jogara a culpa.
               Alguns garçons, uniformizados, começaram a servir a todos com bebidas.
               Um dos administradores do clube subiu no palco onde uma banda tocava e cumprimentou a todos.
               -- Gostaria de chamar aqui o empresário mexicano Juan Bonaventura. Vitória fitou-o confusa, ele deu-lhe um beijo nos lábios e caminhou até lá.
              Maria Clara observava tudo com atenção.
              -- Buenos dias a todos. – O latino começava. – Eu patrocinei esse drinque e espero que todos o apreciem. Apresento a todos a cachaça Bastarda!
              As pessoas pareceram confusas, mas apreciaram a destilada.
              -- Essa bebida foi produzida pela mais bela mulher. – Continuou sorrindo. – Confesso que estou enamorado, minha bela e maravilhosa condessa.
              A neta de Frederico arqueou os olhos em sinal de tédio, bebendo de uma única vez o conteúdo do copo, acabou engasgando com o sabor ardente queimando a garganta.


             Marcelo recebia em seu gabinete um dos maiores patrocinadores da sua campanha passada.
             -- Olá! – O homem cumprimentou.
             Bruno Ferraz era um empresário que se envolvia em negócios escusos. Era dono de umas terras ao redor da cidade.
             -- E então? Você pode fazer o que te pedi?
             -- Com certeza!
             -- Use balas de festim, não quero que o machuque apenas desejo que ela seja responsabilizada por isso.


             Maria Clara estava em casa quando recebeu um telefonema, pegou o carro e seguiu direto para a casa do namorado. Chegando lá, encontrou o médico o examinando.
              -- O que houve? – Preocupou-se ao vê-lo com o ferimento no ombro.
              -- A maldita condessa o atacou. – Marcelo falou, entrando no quarto. – Vim agora da delegacia, já fiz a denúncia.
              -- Eu estou bem, amor, não se preocupe. – Marcos a acalmava. – Eram balas de festim.
              -- Não, isso é um absurdo! – A jovem parecia descontrolada. – Essa mulher não vai fazer o que quiser e sair impune.
              -- Ela não ficará! – O sogro a acalmou. – Será presa!
              -- Dessa vez isso não vai ser suficiente!

               Clara saiu da casa sem ao menos se despedir, entrou no veı́culo e deu partida, deixando todos boquiabertos com a explosão.
               O sol dentro de poucos minutos se poria.
               A condessa aproveitara o dia para descansar. Deu folga para todos os empregados. Gostava de ficar sozinha, de apreciar a tranquilidade daquele lugar que amava tanto.
              Seguia para o estábulo, quando encontrou o seu cavalo caı́do. 
              Desesperou-se imediatamente.
              Agachou-se ao lado dele e percebeu que havia um corte em seu dorso. Os olhos do garanhão estavam abertos, fitando-a intensamente, expressavam a dor que estava a sentir.
              Era domingo e naquele horário os funcionários tinham ido para uma espécie de quermesse na fazenda vizinha.
              -- Calma, Bastardo! – Acariciava-lhe a crina, enquanto pegava o celular e discava para o veterinário.
             O número só fazia chamar, começou a entrar em desespero. Discou novamente e não obteve nenhuma resposta. Praguejou alto!
              Percebeu que precisava fazer alguma coisa, pelo menos até conseguir ajuda. Retirou a blusa para tentar deter a hemorragia, enquanto continuava a ligar, mas ninguém atendia.
              -- Maldição!
              Ficou o acariciando, temendo o que poderia acontecer se não chegasse ajuda logo. Lembrou que tinha o número da fazenda vizinha na agenda, no escritório. Ligaria para lá e pediria que alguém fosse buscar o veterinário.
              -- Por favor, espere um pouco, trarei ajuda e você vai ficar bem, meu amigo. – Rasgou a blusa e amarrou na ferida, saindo em seguida em direção a casa.


              Maria Clara sentia uma fúria que nunca imaginara possuir. Quando pensava que o namorado poderia ter se machucado de forma mais grave sentia vontade de matar aquela mulher. Por que ela não os deixava em paz? Não havia justiça que fosse capaz de fazê-la parar, não havia punição que a detivesse, pois o que se via era a poderosa Mattarazi agir como bem lhe convinha, sem se importar se com isso a vida dos outros poderiam estar em risco.
               Estacionou em frente a imponente mansão.
               Era um lugar realmente lindo e fascinante. A casa contava com dois andares, era toda branca por fora e gramas cobriam todo o pátio. Havia muitas árvores, palmeiras e tantas outras.
               Desceu do carro, apoiada na muleta e já estava a seguir até a entrada quando viu aquela mulher vindo correndo em sua direção.
               Vitória usava apenas um short jeans e sutiã. Parecia se sentir a vontade exibindo-se para todos.
               -- O que faz aqui? – Gritou. – Saia da minha propriedade agora mesmo! – Esbravejou.
               -- Eu não sairei até que você me ouça! – Clara falou firme. – Estou cansada de você tentar machucar a minha famı́lia.
               -- Ah, me poupe! – Tentou passar, mas a mão da Duomont a deteve fortemente pelo braço.
-- Você não irá a lugar nenhum antes de me ouvir.
              Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente, mas Maria Clara sustentou o olhar, não parecia temer a raiva que via queimar nas profundezas verdes.
              A neta de Frederico sentia os dedos queimarem na pele macia. Observou os seios mal cobertos pelo corpete e viu algumas sardas enfeitando o colo firme e redondo.
              Alguma coisa despertou dentro de si.
              -- Solte-me ou farei você voltar a usar as duas muletas. – Ameaçou exibindo um sorriso sádico. As palavras duras a tiraram do transe.
              -- Dessa vez você não ficará impune, condessa!
             Vitória apenas arqueou a sobrancelha em forma de desafio.
             A bela bastarda ouviu o relinchar do cavalo, então se desvencilhou das amarras e retornou correndo até o estábulo.
            Maria Clara a seguiu lentamente e ao chegar ao lugar, avistou-a debruçada sobre o cavalo. Ouviu-a falar com ele e pedir para o animal aguentar firme.
            -- O que houve? – Indagou bem próxima.
            -- Eu já disse para você sair das minhas terras. – Disse sem se voltar.
            Mas a jovem não pareceu ouvir o que ela dizia. Com dificuldade, agachou-se junto ao garanhão, examinando a ferida coberta e encharcada de sangue.
            -- O que houve? – perguntou mais uma vez.
            -- Não o toque! – A condessa estava pronta para tirá-la dali pelos cabelos.
            -- Eu sou veterinária, deixe-me examiná-lo.
            Vitória fitou-a confusa, mas não parecia querer ceder.
            -- Não o toque! – Falou pausadamente.
            Bastardo relinchou mais uma vez, como se estivesse a gemer.
            -- Deixe-me vê-lo! – Maria Clara já retirou a blusa que cobria o ferimento. – Preciso de água quente e gases. A ferida não é profunda, mas se não for cuidada rápido pode infeccionar. Se tiver um kit de primeiros socorros, traga-o para mim.
           A Mattarazi observou-a por alguns segundos e mais uma vez os olhares de ambas se cruzaram, ela o sustentou até levantar.
          -- Se ele morrer, eu mato você com as minhas mãos! – Disse lhe apontando o dedo indicador.              Maria Clara a observou sair em disparada depois de dizer aquelas palavras.
          -- Calma, rapaz, vai ficar tudo bem! – Disse pressionando o corte. – Não acredito que um machucadinho desses vai lhe nocautear, afinal, pior é aturar a sua amazona.
          Bastardo tentou balançar a cabeça, parecia protestar.
          -- Calminha, estava só brincando. – A jovem sorriu.
          Acariciou-lhe o pelo brilhante. Era realmente um animal muito bonito, decerto herdara apenas as caracterı́sticas paternas, pois era verdadeiramente um puro sangue árabe.
          Recordou-se da história que Vitória lhe contara sobre o cavalo. Tinha quase certeza que ela estava a contar seu próprio enredo...
          Alguns minutos se passaram, até a condessa aparecer com tudo que fora pedido. Ela ficou a observar a sobrinha de Helena cuidar da ferida. Viu-a lavar as mãos e depois o machucado.
         O cavalo parecia mais calmo. Dava para perceber que ela era muito cuidadosa no que fazia.
         Os olhos do cavalo pareciam fascinados pela moça de pele branca e lábios vermelhos, mas quem não ficaria?
          Maria Clara Duomont era muito bonita, os cabelos pareciam ébano, mas não eram lisos, apresentavam uma ondulação perfeita que adornava ainda mais o rosto delicado. Lembrou-se dos olhos negros, eram grandes, expressivos... Recordou do sorriso que parecia não abandonar os lábios... A voz baixa e rouca a falar com o animal era hipnotizante...
          -- Ele ficará bem! – Disse terminando o serviço, levantando-se. – Eu dei alguns pontos para fechar, precisa limpar três vezes ao dia. Precisará comprar alguns remédios para ajudar na cicatrização.
          -- Tem certeza que ele não corre risco de morte? – Indagou preocupada.
          -- Com certeza que não! A ferida não atingiu nenhum órgão vital. – Encarou-a. – O que houve com ele?
          -- Eu não sei! – Passou a mão pelos cabelos. -- Passei o dia em casa e agora à tarde vim vê-lo, encontrando-o caı́do. – Pegou um lenço e tentou limpá-la. – Sua roupa está toda suja de sangue.
           Realmente a blusa branca estava totalmente destruı́da.
           Maria Clara afastou-se ao sentir os dedos dela lhe roçarem o seio sobre o sutiã. 
           Corou imediatamente.
          Ambas se encararam durante alguns segundos, parecia que era a primeira vez que se viam. Havia uma atmosfera pesada, quase sufocante entre elas.
          Vitória estendeu a mão para tocar-lhe à face...
          -- O que está acontecendo aqui?
          As duas viraram para entrada e viram a delegada as observando com o olhar intrigado.
          -- Não acham que estão demasiadamente perto, você tem uma ordem de restrição, Vitória, e não parece a estar cumprindo.
          -- Bem, a culpa não é minha! – A condessa sorriu, retomando o sarcasmo costumeiro.
          Valentina observou-as curiosamente. Uma estava toda suja de sangue e com o rosto na mesma tonalidade, já a outra usava apenas um sutiã em conjunto com um minúsculo short...

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