A condessa bastarda -- Capítulo 1




Vitória Mattarazi era a filha mais jovem do conde italiano Vitório Mattarazi V. Fora fruto de uma relação ilı́cita com uma das empregadas da casa da esposa, uma jovem brasileira que se apaixonara pelo patrão garboso.
A pobre mãe enamorada morrera quando trouxera ao mundo a bela ruiva de olhos verdes.

A pomposa condessa fora obrigada a aceitar a criança ou o galante marido abandonaria o "perfeito" matrimônio. Kassandra permitira que a garota fosse criada junto ao seu filho, Vitor, mas a mulher nunca tivera nenhum tipo de sentimentos maternais pela menina. Ela representava a traição, representava o fato de ter sido trocada por uma simples serviçal.

Ao contrário da mãe, o futuro conde amara desde o nascimento a irmã, seis anos mais velho do que ela, assumira o papel de protetor e amigo da garotinha de cabelos de fogo.

Enquanto isso, Vitório sempre fora um homem forte e inteligente, mas com a perda recente dos pais, mergulhara em um mundo de luxú ria e farras, levando aos poucos a riqueza da famı́lia a nada mais do que menos de um milhão de reais. Tivera que vender a mansão onde morava e se instalar em uma fazenda em meio ao nada, em terras potiguaras, herdada de sua mãe.

Vitória fora mandada a um colégio interno quando ainda era um bebê, porém quando o dinheiro acabou, a garota, agora com dezesseis anos, retornara a casa. Em todos esses anos fora, o nico que lhe visitava fora o meio irmão, nem mesmo o conde se dava ao trabalho de saber como estava a jovem. Nem mesmo as férias, ela passava com a famı́lia.

Kassandra a odiava e quando se viu obrigada a tê-la em seu espaço, fizera o possıv́  el para humilhá-la, para mostrá-la qual era o seu verdadeiro lugar, mas a condessa não imaginara que a simples filha de uma empregada herdara o orgulho e arrogância dos Mattarazis e jamais baixaria a cabeça.
-- O que estás a pensar, bambina?
Vitória virou-se e viu o irmão montado em seu garanhão.

A garota estava sentada sob um enorme pé de mangueira. Havia treinado durante toda manhã, era uma grande amazona e participava de campeonatos de hipismo.
-- Onde está o Bastardo?
A ruiva apontou para o estábulo, onde o grande cavalo preto pastava.
-- Está descansando. -- Disse sem interesse.

Ficou a observar o verde que se estendia por aquela extensa propriedade. Havia uma calmaria, uma paz que não se encontrada dentro da casa grande e tampouco dentro dela.
-- Estou apenas a relaxar...
O jovem desmontou e sentou ao seu lado.
-- Brigou com a minha mãe novamente? -- Tocou-lhe o queixo, encarando-a.

-- Não brigo com ela, apenas não aceitarei a forma como a condessa me trata, jamais aceitarei isso de ninguém. -- Cerrou os olhos.

-- Eu sei e te entendo, mas você precisa compreender que ela está passando por uma fase difı́cil, na verdade, todos estão com essa crise. Temo que perderemos até mesmo essas terras. – Observou com tristeza os escassos empregados que restara.

-- O conde não parece se importar com isso, afinal, ele sai toda noite para farras e até mesmo esbanja dinheiro como se ainda tivesse. – Comentou com escárnio.
O rapaz tirou o chapéu de abas da cabeça e bateu-o nas pernas.
-- Irei casar com a filha do governador. Acredito que essa a nica solução para nossa situação. Vitória apenas assentiu.
Sabia que em breve, seria ela a vendida para saldar as dıvidas da famı́lia, era assim que funcionava. Até mesmo já fora apresentada a um viúvo, dono de banco, milionário, sabia que seria questão de tempo para subir ao altar com um homem que tinha um triplo da sua idade.


O casamento do irmão ocorreu como fora planejado, pomposo, fora gasto tudo o que os Mattarazis possuı́am, lógico que eles imaginavam que retomariam o triplo do que investiram, porém nada como se aparenta.

Um mês depois do matrimônio, o governador fora preso e acusado de desviar verbas, teve todos os bens leiloados e ficaram na miséria.



Vitória era agora a única saı́da para toda aquela desgraça.

A garota agora com dezoito anos, era linda. Não passava despercebida em lugar nenhum. Kassandra aproveitou bem isso e conseguira um magnata do petróleo para a enteada. A bela bastarda aceitara sem contestar, sabia que isso era normal e ela também desejava o poder, o dinheiro que o futuro marido possuia. Tão jovem, contraiu matrimônio com um homem de quase oitenta anos. Porém, ninguém domava a rebelde, ela era livre e não se deixava controlar por nada e por ninguém.

Levava a vida como solteira. Fazia o que lhe dava prazer e isso incluı́a competições de equitação. Era uma das melhores.

Em menos de um ano, depois de contrair nú pcias, o marido sofreu um infarto. Não havia filhos, irmãos ou tio, apenas muito dinheiro que a jovem viúva herdou.


A ruiva vivia a observar o irmão, alguém sempre entusiasmado, se transformara em um homem amargurado, a esposa tornava a vida de todos um verdadeiro inferno e nem mesmo o nascimento da filha mudara isso. Vitória usara tudo que herdara para levantar a fazenda da famı́lia, mas perdera quase por completo em investimentos errados do pai e na ambição desmedida da madrasta. O pouco que lhe restara, investiu naquelas terras tropicais, essa era a verdadeira paixão da garota. Com o tempo aprendera que era ali o seu lugar e faria de tudo para preservá-lo.

Mas o destino ainda tinha muito para mostrar e surpreender. Um acidente de carro ceifara a vida de toda a famı́lia, restando apenas à filha ilegı́tima para levar a frente o nome Mattarazi. Vitória, pela primeira vez em muitos anos, chorara. Mas não o fez pelo pai que nunca lhe demonstrara nenhum tipo de afeto, o fez pelo irmão, pois fora este quem sempre estivera ao seu lado. Fora ele quem lhe dera seu carinho, fora ele o ú nico que lhe demonstrara o querer desinteressado.

Então, antes de completar a vigésima primavera, a filha de uma empregada recebera o tı́tulo de condessa Mattarazi VI. Tudo que a famı́lia tinha fora deixado para si, mas tivera que enfrentar a acusação que a famı́lia de Helena, esposa de Vitor, fizera contra sua pessoa. Eles a denunciaram como sendo a responsável pelo acidente, porém as investigações comprovaram que não houve nenhum tipo da falha mecânica no veículo, o que significa que a culpa do que ocorrera foi da velocidade que o motorista conduzira o veículo.


Cinco anos depois...


-- Não há dúvidas que você será eleita a prefeita dessa cidade!

Maria Clara sorriu e bebeu água. Dentro de alguns minutos começaria a competição e precisava estar totalmente sóbria.
Estavam a comemorar, pois a candidatura da jovem tinha sido bem aceita por toda a população.

A famı́lia Duomont temera que houvesse rejeição, pois há alguns anos o avô da jovem, Frederico, na época governador do estado, fora preso por desvios de verbas. Agora eles estavam tentando se reerguer de tudo que acontecera, buscando o prestigio e o dinheiro de outrora.

-- Você será bem aceita! -- O velho lobo falava. -- Venceremos aqui e nas urnas. Quando isso acontecer, teremos força o suficiente para destruir a condessa. -- Socou a palma da mão. -- Ela tirara tudo de nós e nós tiraremos até o ltimo centavo dela.

Maria Clara lembrou-se da tia que morrera tão drasticamente. Ainda sentia a mesma tristeza quando relembrava o que se passara. Na época, a jovem estava estudando fora, mas viera para o enterro. Naquele dia chuvoso, pode ver a mulher vestida de preto, ainda recordava do olhar frio, da falta de expressão que o belo rosto exibia. Sentiu a nuca se arrepiar quando se lembrou dos olhos verdes se direcionarem para si. Eram como se fossem feitos de aço.
-- Amor, você será a mais linda prefeita de todo o paı́s. -- O namorado a beijou nos lábios, tirando-a de suas lembranças.
-- E eu seu vice.
Ela sorriu!

Marcos era filho do atual gestor da cidade. O belo rapaz fora escolhido como seu companheiro na chapa. Sabia que a popularidade do pai não estava em alta, por isso aceitara que a futura esposa ocupasse aquele lugar. Sabia que ela tinha carisma, além de ser linda. A morena de olhos negros, corpo esguio, rosto de linhas delicadas conquistaria a todos.
-- Não há dúvidas que sairemos vitoriosos.
A amazona ouviu o chamado e seguiu para seu cavalo.

Ficou parada a observar a competidora que entrava no gramado, montada em um cavalo árabe lindo. Ficou encantada, porém ao notar o sorriso debochado da mulher que o montava, sentiu o sangue esquentar.
A condessa!

Ficou surpresa ao vê-la. Ninguém a via. Só tivera o desprazer de se deparar com sua pessoa no cemitério. Nunca falara com ela e jamais a imaginou naquele lugar.



Assassina!
Na época da morte de Helena, tinha apenas dezesseis anos, porém ficara sabendo da participação daquela cobra.

Recordou de quando a viu. Isso só acontecera uma nica vez, mas nunca se esquecera daquele rosto forte, arrogante e orgulhoso, só não recordava de como ela era jovem e bonita. Poucos viam aquela figura por ali, ela vivia isolada em sua fazenda, um lugar lindo e bem afastado da pequena cidade.
-- Não sabı́amos que ela estaria na competição!
Maria clara fitou o treinador e amigo, mas voltou rapidamente para a apresentação.
Ela era perfeita! Executava tudo com maestria. Parecia fazer parte do animal. Lembrava uma rainha.
Alguns minutos se passaram e chegou ao fim a bela performance. Ela desmontou, retirou o capacete e sorriu.

Clara percebeu o sarcasmo presente no ato, pois a competidora saudara sua famı́lia e em seguida procurou-a com o olhar por entre os que estavam ali presentes e quando a viu arqueou a sobrancelha em um quê irônico. A jovem apenas deu de ombros.

Sabia de tudo que aquela mulher já fizera, desde a morte da famı́lia até a do próprio marido e só permanecia impune, devido aos bilhões que possuı́a. O que mais doı́a era saber que o crime contra sua tia fora descartado como um simples acidente.
A bela Duomont balançou a cabeça para impedir os pensamentos que lhe atormentavam e seguiu para a apresentação.

Tudo estava perfeito, treinara muito para aquele dia e sabia que estaria no pódio. Aquele era o campeonato estadual de hipismo e ela desejava muito aquele prêmio. Ouvia os gritos de entusiasmo, afinal, quem estava ali a competir era nora do prefeito e provavelmente a futura administradora daquele municı́pio.

Então quando foi saltar o ltimo obstáculo, sentiu a sela solta, seria inevitável a queda, mas antes de ir ao chão, pode ver o sorriso vitorioso estampado no rosto da condessa Mattarazi.
Fora essa sua ú ltima visão antes de cair desmaiada.


Clara seguiu para o quarto.
Há dois meses que sofrera o acidente quando participava do campeonato e necessitava de muletas para se locomover.
-- Precisa de ajuda, senhorita? -- A empregada abriu a porta para ela.
-- Não, Joana! -- Sorriu. -- Irei descansar um pouco.

Seu corpo ainda sentia as dores do acidente. Talvez, nunca mais voltasse a competir. Seu cavalo teve que ser sacrificado e isso era o que mais lhe entristecera.
Não pudera salvá-lo... Não tivera essa chance...
Trovão fora presente dos pais. Ele estava com ela desde quando era apenas um potrinho. Apoiando-se no móvel, conseguiu deitar com muito esforço.
Nada lhe tirava da cabeça que a tal Mattarazi fora a culpada do que aconteceu. Ficara comprovado que a sua sela fora cortada e não havia outra pessoa que pudesse desejar algo assim.
Fechou os olhos!

Nascera naquele lugar, mas estudara durante muitos anos na Alemanha. Devia muito ao avô que se comprometera com seus estudos e sempre lhe dera tudo, até mesmo quando passara por momentos ruins. Há um ano retornara ao Brasil, iria participar das olimpı́adas, mas o acidente lhe tirara do jogo. Tivera que ficar no interior, conseguindo apoio ao lado da famı́lia. Os pais e o avô.

Maria Clara Oliveira Duomont sabia o poder que aquele sobrenome tinha em toda aquela região, mas também sabia que desde a prisão de Frederico, a popularidade polı́tica fora esmagada e ela sabia que caberia a si resgatá-la. Sabia que teria alguns obstáculos em seu caminho. E agora estava segura que a condessa seria um deles, mas não a temia, estava disposta a lutar com todas as armas contra ela.

Sabia que Vitória Mattarazi dominava grande parte daquelas terras. Mas será que ela se livrara de toda a famı́lia para conseguir aquilo? Muitas coisas na vida daquela mulher era uma incógnita. Uma filha ilegı́tima se tornara nica herdeira de um pouco que ela transformara em muito em menos de cinco anos.

Pegou o celular e acessou a internet. Ficou a observar a ruiva acompanhada de um belo homem. Ela era viúva. Casara com alguém que tinha idade para ser seu avô e em menos de seis meses ficara solteira. Herdara uma boa quantia do marido e soubera fazê-la multiplicar. Era normal vê-la em revistas acompanhadas de belos rapazes, mas nunca havia uma segunda foto. A ruiva parecia uma caçadora, uma verdadeira predadora.



Observou o olhar forte e recordou do dia que a viu no enterro da tia. Na época, Clara era apenas uma menina e ficara muito impressionada com a frieza que ela demonstrara.
O que poderia esperar de alguém que tramara a morte da famı́lia e até mesmo do marido?


Estaria preparada para o que tivesse que vir. Não baixaria a cabeça jamais e se conseguisse provas de que ela estava por trás da morte da amada Helena, faria qualquer coisa para colocá-la atrás das grades.

Comentários

  1. Saudações!!! Eu já havia lido a Condessa Bastarda no projeto lettera!! Fiquei super triste pois sempre o relia,ele não está mais nesse site,sempre procurando acabei de achar,estou feliz d+!!! Amo! Amo! Amo!!! Perfeito! Fabuloso! maravilhoso!!! Ímpar!!! Vc escreve d++++ já li várias estórias,mas essa é a melhor de todas!!! 🥰😍😘😘

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Gostei dessa história, já algumas vezes ela é ótima, fiquei triste quando foi retirada do projeto lettera mas enfim encontrei novamente e estou amando lê-la novamente.

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